18.12.10

Samsung Galaxy Tab (o outro)



Depois de algumas semanas de paixão e convivência contínua com o iPad, mergulhei fundo nos braços metafóricos do Samsung Galaxy Tab. Estaria neste momento me sentindo a mais volúvel das mulheres se, durante este tempo, não tivesse chegado à conclusão de que ambos são animais distintos, mais complementares do que concorrentes. Fosse o mundo um lugar justo e generoso, todo bípede amante de gadgets teria direito a um iPad para usar em casa e a um Galaxy para sair na rua; mas vamos começar pelo começo, que é sempre um bom ponto de partida.

Talvez a principal diferença “ideológica” entre os dois seja, exatamente, a portabilidade. Ainda que pequeno e bastante leve na comparação com os notebooks, o iPad não cabe em qualquer bolsa e, definitivamente, não entra em bolso algum; ele pesa o suficiente, e toma suficiente espaço, para que o usuário pense duas vezes antes de levá-lo consigo a todos os cantos.

Com 350 gramas a menos e praticamente metade do tamanho, o Galaxy é, ao contrário, a mobilidade em pessoa. O preço que paga por isso é ter uma tela menor e visualmente mais poluída, onde os ícones disputam lugar, ao contrário da do iPad, onde nadam folgados. Em termos de definição, as duas se equivalem, sendo que a do Galaxy, por ser menor, chega a parecer mais nítida. 

Atrapalha, a questão do tamanho? A mim, sinceramente, não, mas esta é uma das perguntas mais sérias que o usuário deve se fazer antes de decidir por um ou por outro. O iPad é genial para ler revistas e jornais (livros, curiosamente, se lêem melhor no Galaxy, cujo formato está próximo a um volume de bolso), assistir vídeos, desenhar, brincar com fotos e, eventualmente, trabalhar, porque ninguém é de ferro. Comparar suas habilidades às do Galaxy, porém, chega a ser covardia.

Primeira vantagem: como todo Android, o Galaxy se conecta ao computador como um drive externo. Você pode ver os arquivos, apagar o que quiser, acrescentar o que bem entender. Nada de iTunes! Esta é uma liberdade que não tem preço. Segunda vantagem: o Galaxy não precisa de um simcard de dados só para ele. Trabalha com simcards comuns, porque é também telefone, o que dá ao seu feliz proprietário a possibilidade de mudar o cartão de aparelho caso seja necessário. Terceira vantagem: o Galaxy é um bom aparelho de TV, que pega redes digitais e (surpresa!) analógicas – e que, ainda por cima, permite gravar os programas. Quarta vantagem: o Galaxy tem duas câmeras, uma traseira de 3 megapixels e uma frontal para  videochamadas (algumas fotos feitas com ele AQUI). Quinta vantagem: o Galaxy tem, como o seu irmão menor, o smartphone Galaxy S, um sistema de escrita chamado swype, em que basta deslizar os dedos entre as teclas que formam uma palavra para completá-la – e o pior é que o troço funciona. 

Não bastasse tudo isso, o Galaxy Tab sai da caixa – descaradamente parecida com a do iPad – cheio de companhia. Vem com uma capinha muito caprichada que imita couro, com um set de headphones estéreo com fio e um mono Bluetooth para fazer ligações. O iPad, como é sabido, não vem nem com headphones.

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Parenteses para pôr alguns pingos nos ii: o Galaxy tem câmera, é fato, e funciona também como telefone. Mas – grande mas – faltam-lhe as características ergonômicas para ser bem aproveitado como uma e como outro. A câmera é razoável, embora infiel às cores, e seu uso é dificultado pela capa (falo disso daqui a pouco); mas o xis da questão é que, de todas as coisas que hoje tiram fotos por aí, o tablet é a menos prática de usar. O mesmo não digo em relação à câmera frontal, sempre útil. O headphone funciona bem, mas celular por celular, qualquer xingling é mais confortável. Ainda assim, acho ótimo que ele tenha essas serventias.

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Enfim: o Samsung Galaxy Tab é um campeão. Tem muitos prós e, ao menos que eu tenha descoberto até agora, pouquíssimos contras. A capa bonitinha é, paradoxalmente, um deles. A leitura ocidental se faz da esquerda para a direita, e ela se abre à oriental, da direita para a esquerda. Muito chato – sobretudo porque, na hora de usar a câmera, em vez de ficar pendurada sozinha para baixo, ela tem que ser segurada pelo usuário para cima. Mais séria, porém, é a questão do cabo. Indo nas águas da Apple e contrariando o bom senso, a Samsung dotou o Galaxy de um cabo de conexão proprietário, muito parecido, aliás, com os do iPhone, iPad e família. O que é que isso significa? Significa que se o usuário se descuidar e perder este bendito cabo, estará frito. A bateria segura bem quase um dia de uso, mas depois... Não sei qual é a disponibilidade de cabos Samsung nas autorizadas, mas hoje este tipo de “reserva de mercado” não tem nada a ver.

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A pergunta que não quer calar – iPad ou Galaxy? – é difícil de responder. O iPad oferece tamanho, fundamental para muita gente, e o inimitável sex-appeal da Apple; o Galaxy, no entanto, é muito mais completo e portátil. Os dois são igualmente bem acabados, chiques, apaixonantes. Ao contrário do que dizem as más línguas, não faltam aplicativos para o Galaxy; mas eu falo disso no próximo sábado. Até lá!


(O Globo, Economia, 18.12.2010) 
   

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