Quando um amante de gadgets encontra um über-gadget como o iPad, é natural que gaste boa parte do tempo pensando e falando sobre o seu brinquedo. Dura um tempo, mas depois passa; sei disso, porque já me aconteceu algumas vezes. Se você não tem iPad nem está interessado no assunto, peço perdão antecipadamente e sugiro que pule esta coluna. Prometo que semana que vem falo de outra coisa.
Tenho pensado muito, por exemplo, no que torna o iPad tão irresistível. Qualquer teoria sobre um gosto, ainda que coletivo, é só isso mesmo: uma teoria. Mas acho que parte do encanto do iPad é a sua portabilidade e a “cumplicidade” que ela gera entre usuário e gadget. Um computador de mesa, por exemplo, mesmo quando usado individualmente, não transmite qualquer sensação de intimidade. A tela é grande, fica sempre a uma certa distância e pode ser vista por quem estiver de passagem. O notebook chega mais perto do usuário. A tela é menor e mais próxima, e a máquina pode ser carregada, o que a torna mais pessoal; mas mesmo os notebooks mais leves não estão sempre a postos como o iPad, primo-irmão de celular e, consequentemente, permanentemente “aberto”.
Também não se pode subestimar a sua simplicidade. Em tese, ele pode fazer tudo que um computador faz nas horas vagas, usando a ótima interface que o iPhone tornou conhecida, e dispondo do mesmo rico manancial de aplicativos. Como acontece com os smartphones, ele se adapta ao gosto e às necessidades do freguês e, como todo computador, define-se muito mais pelo software que escolhemos do que pelo hardware. Embora, como bom produto Apple, seja bonito mesmo desligado.
Além de filosofar a seu respeito, de procurar aplicativos e de brincar com fotos, o que é que mais tenho feito com o iPad? O mesmo que faço com o iPhone: checar a mailbox. O sistema de email dos dois é ótimo para ler o que chega. Responder são outros 500. No iPhone, o máximo a que chego é dizer que respondo depois. A tela maior do iPad permite escrever melhor, mas não bem; por isso, meu acessório favorito é um pequeno teclado Bluetooth, à venda em qualquer loja Apple (inclusive online) por pouco mais de R$ 200. Esse tecladinho é, como o próprio iPad, uma inutilidade muito útil, que acaba revelando o seu valor quando a gente não quer usar o computador “de verdade”.
O que me impediu de ser completamente feliz com ele, no começo, é que, segundo as intruções que me foram passadas pela autorizada da Apple onde o comprei, escrever em português corretamente acentuado era um exercício de memória e de ginástica digital, que incluia uma exótica tecla Option, seguida de combinações estranhíssimas. Para produzir um mísero A com acento agudo, eu precisava teclar Option e a letra E, para obter o acento; e, na sequência, a letra A. O resultado é que ou trabalhava com uma cola ao lado do teclado ou abolia totalmente os acentos, duas opções igualmente insatisfatórias. Tinha que haver método mais simples para acentuar -- e, claro, há mesmo.
Como imagino que outros proprietários do ótimo tecladinho possam estar passando pelo mesmo perrengue, aí vão as instruções para transformá-lo numa ferramenta acentuadora. Como a maioria dos iPads O primeiro passo é ir para Ajustes > Geral > Teclado > Teclados Internacionais > Português. A partir daí, finalmente, há duas opções importantes. A primeira: “Escolha um leiaute de teclado virtual”. Resposta: QWERTY. A segunda: “Escolha um leiaute de teclado físico”. Aqui é que a porca virtual torce o rabo, porque o padrão, que vem automaticamente marcado com a opção de língua portuguesa do Brasil, é “Brasileiro”. Mas isso corresponde ao padrão ABNT, coisa que o teclado Bluetooth da Apple não é. A resposta certa é “EUA Internacional –PC”. E pronto. Com isso ele passa a acentuar perfeitamente bem. Para fazer as cedilhas, porém, é preciso teclar acento agudo + c. Essas mesmas instruções valem para o iPhone, que também pode ser conectado ao teclado.
Usar o EUA Internacional é, contudo, uma gambiarra. O Brasil tem um padrão de teclado perfeitamente bom e apropriado, e o mínimo que o usuário podia esperar da empresa é que ela lhe oferecesse a opção de comprar o teclado com o qual está acostumado. O descaso com que a Apple trata o consumidor não combina com o seu esforço em seduzi-lo.
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