O ataque de bom-senso que me impediu de comprar o Kindle assim que saiu também me manteve longe do iPad por uns tempos: ando perturbada com a quantidade de gadgets inúteis que povoam os meus armários e gavetas, e culpada com a quantidade de lixo digital que, à custa de sucessivos upgrades, ajudo a gerar.
Por outro lado, nem tudo na vida é bom-senso, e há um momento em que a curiosidade manda o juízo às favas. Depois de ver tantos amigos tão perdidamente apaixonados pelos seus tablets, não consegui mais ficar de fora da brincadeira, e comprei um iPad.
Primeiro ponto: eu preciso de um iPad? Honesta e sinceramente não, e acho que isso se aplica à maioria dos consumidores. Tudo o que se faz com um iPad se pode fazer, com maior ou menor facilidade, no computador ou no celular. Segundo ponto: tendo um iPad, eu abriria mão dele? De jeito nenhum – e, novamente, acho que esse é o caso de quase todos que o possuem. O iPad, um dos melhores brinquedos que já tive, é a inutilidade mais divertida e indispensável dos últimos tempos, ainda mais para quem gosta de mídias sociais.
A alma do iPad, como a iphone, está nos aplicativos – e, para o Twitter, há uma quantidade. Gosto especialmente de dois : o do próprio Twitter, que é grátis, e o TwitBird (mais parecido com a versão antiga e mais simples do Twitter), que pode ser grátis ou pago. Estou usando o grátis e estou contente. O Echofon, meu favorito do iPhone, só existe em versão paga (US$ 5); não compensa. Para o Facebook, a melhor pedida é o Friendly, que merece o dólar da versão Pro, embora exista em versão lite, com anúncios.
Ver filmes e seriados no Ipad pode virar vício, mas confesso que ainda não encontrei o player ideal. O bom e velho VLC, que lê até pedra (como diz o Marcelo Temporal), volta e meia se recusa a reconhecer as legendas, mesmo problema do OPlayerHD. Como é sabido, tanto arquivos .avi (dos filmes) quanto .srt (das legendas) devem ter o mesmíssimo nome, mas nem isso tem funcionado, embora os conjuntos se apresentem sem problemas no computador. O companheiro ideal para tantas séries e filmes é, tradicionalmente, o IMDB – que desenvolveu um aplicativozinho correto.
Outro vício? O Zinio, banca virtual (grátis) em que se encontram revistas (pagas) do mundo todo. Fiz uma assinatura da National Geographic e agora me confronto com um típico dilema contemporâneo. Nunca joguei fora uma National Geographic de papel, mas como vou proceder com as suas irmãs virtuais? Deixa-se tudo no HD, ou deleta-se sem dó nem piedade? Já o Newspapers põe ao alcance do usuário todos os jornais de conteúdo aberto do mundo – mas, em compensação, custa US$ 3. Vale!
O aplicativo mais interessante que encontrei, disparado, chama-se Flipboard, e é gratuito. Essencialmente, é um agregador de páginas, notícias e mídias sociais, ao qual se podem juntar blogs, jornais, contas do Twitter e do Facebook. Cada item é caprichosamente diagramado como se fosse uma revista. Podem-se gastar horas sem fim só virando as suas páginas.
Até agora, o meu maior investimento em software foi o Documents to Go, que custa US$ 17 e permite ler, criar e editar documentos do Microsoft Office. O iPad não é uma máquina de trabalho, mas é bom ter a possibilidade de usá-lo a sério.
Outra mão na roda é o Evernote, tão útil e tão bom que não dá para entender porque ainda é gratuito: nele se podem tomar notas, juntar fotos como memos visuais, fazer gravações. O material é sincronizado com a página do programa na web, de modo que, de qualquer aparelho que seja, e onde quer que esteja, o usuário tem acesso às suas anotações.
Para quem não se incomoda em ler livros na tela, a Amazon disponibiliza, de graça, o software do Kindle; mas o iPad está longe de ser o leitor ideal, e nesse quesito perde para os livros tradicionais e para o próprio Kindle, mais suave nos olhos.
A menos, claro, que o livro seja algo como a gloriosa edição de Alice para o iPad, a amostra mais eloqüente de um lindo caminho a ser trilhado.
(O Globo, Economia, 27.11.2010)
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