7.9.09

Joguinho

Ontem, por acaso, me lembrei da primeira frase de "Cem anos de solidão", de Gabriel Garcia Marques:
"Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía haveria de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo."
Gosto tanto disso que sei de cor. Macondo virou um lugar de verdade na minha geografia sentimental: volta e meia, em algum canto da Amazônia, imagino que estará logo ali, depois daquelas árvores.

Uma coisa puxa a outra, e fui lembrando de outros começos marcantes:
"Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranqüilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso."
Ou:
"Alguém certamente havia caluniado Josef K., pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum."
Não, não era boa coisa acordar num romance de Kafka, como se vê.

Há os começos de que só me lembro em outras línguas -- "Call me Ishmael", de Moby Dick, por exemplo, porque nunca "pegou" em português; e "Longtemps, je me suis couché de bonne heure", que, embora tenha ótima tradução em português, ficou assim para sempre para mim, porque li Proust pela primeira vez em francês.

Para não falar na grande palavra mágica da literatura brasileira, seis simples letras que nos abrem as portas de um dos mais extraordinários livros jamais escritos:
Nonada.
Nada podia ser mais radicalmente diferente de um dos começos mais famosos da literatura ocidental, a bem dizer a maquete da catedral que Dickens apresenta em seguida, na "História de duas cidades". Mesmo quem nunca sequer teve esse livro em mãos lemnbra do seu começo, ou de partes dele:
"It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of wisdom, it was the age of foolishness, it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity, it was the season of Light, it was the season of Darkness, it was the spring of hope, it was the winter of despair" (“Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos, foi a idade da razão, foi a idade da loucura, foi o tempo de acreditar, foi o tempo da descrença, foi a época da Luz, foi a época das Trevas, foi a primavera da esperança, foi o inverno do desespero."

Pensei então em fazermos um jogo. Hoje é feriado, deve chover, pode sobrar tempo. Quais são os começos de romances favoritos de vocês? Não é necessário que a um começo favorito siga-se um romance extraordinário...

E aí, topam?

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