7.7.09

Anatomia de um desastre

Desde que o (já não tão) novo prefeito tomou posse, os protetores de animais vêm mantendo um diálogo de surdos com a Sepda.

Esperei um tempo para ver como ficavam as coisas, para não julgar precipitadamente um trabalho que, afinal, poderia estar sendo bem encaminhado, mas a verdade é que o mínimo que se pode dizer da política da prefeitura em relação aos bichos do Rio de Janeiro é que é um desastre.

A Secretaria de Proteção e Defesa dos Animais só tem protegido e defendido mesmo os animais humanos que emprega. Parece claro que, para o prefeito Eduardo Paes e seus "especialistas", bicho bom é bicho morto.

Lilian Queiroz, da ONG Oitovidas, acaba de enviar correspondência para o prefeito:
"Sr Prefeito Eduardo Paes,
Sr. Luiz e Dr. Leonardo

Tenho comparecido às reuniões e observado a atuação da Sepda.

Como contribuinte, que dedica o equivalente a cinco meses do meu trabalho em impostos e o equivalente a outros quatro meses com cuidados de animais abandonados, serviço esse que cabe ao Poder Público, me sinto bem à vontade para fazer esses comentários.

Todos vocês que estão ocupando cargos nessa secretaria, antes de caírem de para quedas aí, nunca tinham ouvido falar em "Proteção animal".

Sem conhecimento de causa, começam a elaborar planos mirabolantes, a maioria das vezes com olhos nos votos da Proteção Animal, sem se inteirar do assunto, sem pesquisar as necessidades e reivindicações de pessoas que há anos fazem esse trabalho com os próprios recursos.

Marcam reuniões com um número enorme de pessoas e não ouvem nenhuma.

Elaboram projetos e se sentem injustiçados por não serem ouvidos e elogiados no que estão propondo.

Acontece que para nós, cansados de tanta promessa que não se realiza, só vale o que está pronto, o que está acontecendo. E do que está acontecendo, sinceramente, não estamos gostando.

O "vamos conseguir verbas", "nós estamos querendo fazer", para nós, sinceramente, já virou piada.

Por exemplo, a Fazenda Modelo:

Um elefante branco, com uma localização difícil para a maioria dos protetores, que não tem carro e tempo para se locomover até lá, e ainda tem que colocar os animais em risco, pelo stress da viagem.

Quem conhece gatos, sabe o que significa isso para eles.

A angústia que nos causa a possibilidade de "entulhar” inúmeros animais lá e a insegurança em relação à verba para mantê-los por muitos anos, bem como em relação às mudanças de governo, não têm tamanho.

A fome, a sede e a doença não esperam licitações, briguinhas por poder, ou novas ordens.

Além do mais, com o dinheiro que gastaram lá, poderiam estar montando vários quiosques de castração perto das favelas e bairros da Zona Norte, além de investirem na educação sobre posse responsável. Mas, entendo, isso não seria viável para fins políticos, pois não seria visto pelos eleitores.

Sei que aos olhos de vocês somos ingratos e só queremos brigar. Acontece que se estivessem do nosso lado, participando do nosso dia a dia, poderiam nos compreender e fazerem um serviço que realmente importaria para os animais.

Nada pior para nós, que conhecemos cada animal da colônia que cuidamos, que sabemos qual está adaptado, qual precisa ser castrado, doado, qual está correndo risco no local, por ser medroso, arisco, coisas que só quem cuida sabe, do que aparecer um "hiperporforizado" com um "projeto", querendo recolher, doar, levar para o CCZ, (com a Dra Eucy na direção!) ou para a Fazenda Modelo.

Vocês criam projetos para a doação de gatos quando não conhecem a colônia e muito menos quem cuida deles. Chegam sem a menor consideração, interferindo em trabalhos que estão sendo feitos há anos, sem ao menos ouvir o que foi e o que está sendo feito, sem saber das necessidades de cada um dos protetores.

Dão entrevistas falando idiotices, demonstrando total despreparo e dando às pessoas que não conhecem o assunto uma falsa imagem.

O trabalho da Dra Preci, por exemplo, é muito maior que cuidar e acomodar os poucos gatinhos da colônia do Parque Lage.

Para esses, ela não precisa da Fazenda Modelo ou de vocês, pois trabalhou durante muitos anos no local sem qualquer ajuda da Prefeitura ou de qualquer governo. Todas nós protetoras e suas amigas podemos cada uma ficar com um ou dois deles e eles ficariam muito bem cuidados.

O problema, entretanto, é muito maior que isso e vocês não conseguem nem enxergá-lo.

Quando a Dra. Preci sair do Parque Laje o abandono e a ignorância pública não vão acompanhá-la. Sendo assim, pergunto: quem vai doar os filhotes deixados lá todos os dias? Quem vai tirá-los da desidratação e inanição que eles apresentam na maioria das vezes, precisando ser alimentados e hidratados de 3 em 3 horas? Quem vai conseguir donos responsáveis para os adultos, muitas vezes velhinhos, doentes ou machucados que são abandonados ininterruptamente? Quem vai conversar com aos visitantes, dando informações importantes, como a de não alimentar silvestres com chocolates e batatas fritas, coisa que nem uma placa de aviso a prefeitura faz? Quem vai checar se no meio da mata estão agonizando animais, cheios de agulhas e velas pretas e vermelhas, depois das magias e macumbas? Quem vai fazer esse trabalho, que só quem ama faz com a dedicação e a competência que ela e os protetores fazem?

Difícil para políticos entenderem esse trabalho. O olhar dos políticos está dirigido para outro lugar: VOTOS e SALÁRIOS ALTOS.

Infelizmente, se existe alguma possibilidade de vocês se juntarem a nós, é preciso que aprendam a ter um olhar de compaixão, muito mais abrangente que o próprio umbigo.

Não adianta ser educado, simpático, sedutor, interessante.

Para a proteção só interessam competência, solidariedade, paixão e respeito pelos animais."

Lilian Queiroz de Sousa

Protetora e Presidente da Oitovidas.

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