6.7.09

Urbanóides no Amazonas



Pessoas, perdão pelo atraso na postagem, mas hoje foi um daqueles dias ultra super duper enrolados (ie, um dia normal como todos os outros!); por incrível que pareça, só agora consegui sossego para me conectar do desktop, onde estava o texto. A data de postagem ficou sendo a de segunda, porque, para efeitos de pesquisa, eu sempre uso a data da publicação.


O barco saiu de Manaus às quatro da tarde. Em termos de ligação com o mundo, a situação era a seguinte: três horas depois do início da viagem entraríamos numa zona inteiramente desconectada, na qual nem celulares pegariam, e só voltaríamos a nos conectar ao chegar a Parintins, 18 horas depois.

Ao longo do Amazonas há pontos conectados aqui e ali, ao largo de pequenas cidades, mas ninguém tinha certeza de quando aconteceriam o “aqui e ali”.

A experiência foi muito interessante para mim e para o grupo hiper-conectado com quem eu viajava. À medida em que o barco descia o rio e se embrenhava pela selva, conferíamos os celulares e trocavamos impressões sobre o sinal. Como todos estavamos em roaming, porém, todos tínhamos o mesmo sinal: é que as operadoras usam os serviços umas das outras onde não têm cobertura.

O sol estava se pondo quando o meu telefone tocou:

-- Senhora Cora?

-- Sim.

-- Aqui é da Oi. Nós temos uma oferta para a senhora...

Ninguém merece receber ligação de telemarketing no meio do maior rio do mundo! Despachei a moça com toda a educação de que fui capaz nas circunstâncias, e voltei a me concentrar na natureza imponente que nos cercava. Pouco depois, os celulares mergulharam na zona de silêncio.

A uma da manhã, ao passarmos por vagas luzinhas na distância, conferi o sinal do modem: estava vivo! Aproveitei os quinze minutos de conexão para gerenciar o blog e dar uma olhada na mailbox. Quando chegamos a Parintins, todos os celulares voltaram, ainda que com certo delay na conversa; a internet, porém, era um desastre, e funcionava – quando funcionava – a conta-gotas.

Cheguei a chorar as mágoas com os amigos, até que me dei conta de como estávamos, todos, sendo ingratos com a tecnologia. Parintins fica a 420 quilômetros de Manaus, está no coração da Amazônia, cercada de água e floresta por todos os lados – e, ainda assim, cada um pode carregar a sua linhazinha telefônica no bolso!

Se isso não é um milagre, não sei bem o que é.


(O Globo, Revista Digital, 6.7.2009)

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