O Boi é muito mais bonito do que eu imaginava. É difícil compará-lo com qualquer outra coisa, escolas de samba inclusive, porque a festa é única, um misto de show, espetáculo de torcida e prova de resistência. Ao longo de três noites, cada associação apresenta as suas variações de lendas amazônicas, descritas através de música, dança e alegorias imensas e cheias de detalhes.
Bichos se mexem, aves voam, bonecos piscam e agitam os braços; as construções enormes se multiplicam na arena como se fossem cartolas de mágicos, e delas saem muitas surpresas, às vezes detalhes engraçados do conjunto, às vezes alas inteiras de dançarinos.
Enquanto isso, a torcida (que aqui se chama galera) dá um how à parte. Pula sem parar, faz coreografias, agita panos coloridos, acende isqueiro, joga milhares de estrelas ou corações de papel para o alto.
As evoluções da galera, que contam para o resultado final, são ensaiadas durante meses. Enquanto um Boi se apresenta e a sua galera se esfalfa, a torcida contrária fica quietinha no escuro. Qualquer movimentação é perda de ponto.
* * *
Hoje à tarde estive na cidade. Muitas casas e repartições estão alagadas, e há tábuas em algumas ruas, tal e qual a aqua alta de Veneza.O mundo é bem redondo.
Agora volto para o Bumbódromo, para um passeio final. Amanhã saimos cedíssimo daqui e, nem preciso dizer, chegamos tardíssimo ao Rio.
* suspiro *
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