27.6.09

Notícias da selva

Escrevo da varandinha do meu camarote do barco. Estamos atracdos numa esquina de rio sossegada. O trânsito de barcos, lanchas, canoas e outros objetos flutuantes é relativamente pequeno. À nossa volta, porém, há muitos barcos atracados, e o barulho do fim-de-tarde é tipicamente amazonense: a trilha sonora do Boi, que toca incessantemente em todas as casas, estabelecimentos comerciais e embarcações de Parintins, gritaria de crianças alegres, que mergulham e nadam no rio, motores de lanchas e jetskis e, acima de tudo, a algazarra dos pássaros que se recolhem para a noite.

O Boi é muito mais bonito do que eu imaginava. É difícil compará-lo com qualquer outra coisa, escolas de samba inclusive, porque a festa é única, um misto de show, espetáculo de torcida e prova de resistência. Ao longo de três noites, cada associação apresenta as suas variações de lendas amazônicas, descritas através de música, dança e alegorias imensas e cheias de detalhes.

Bichos se mexem, aves voam, bonecos piscam e agitam os braços; as construções enormes se multiplicam na arena como se fossem cartolas de mágicos, e delas saem muitas surpresas, às vezes detalhes engraçados do conjunto, às vezes alas inteiras de dançarinos.

Enquanto isso, a torcida (que aqui se chama galera) dá um how à parte. Pula sem parar, faz coreografias, agita panos coloridos, acende isqueiro, joga milhares de estrelas ou corações de papel para o alto.

As evoluções da galera, que contam para o resultado final, são ensaiadas durante meses. Enquanto um Boi se apresenta e a sua galera se esfalfa, a torcida contrária fica quietinha no escuro. Qualquer movimentação é perda de ponto.

* * *

Hoje à tarde estive na cidade. Muitas casas e repartições estão alagadas, e há tábuas em algumas ruas, tal e qual a aqua alta de Veneza.

O mundo é bem redondo.

Agora volto para o Bumbódromo, para um passeio final. Amanhã saimos cedíssimo daqui e, nem preciso dizer, chegamos tardíssimo ao Rio.

* suspiro *

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