1.6.09
Impressos: um papel importante
Entre uma tarefa e outra, na Saara, esse gato que rala não dispensa a lida do Extra, dobradinho ao seu lado...
Certas perguntas parecem se repetir indefinidamente na vida das pessoas. Na minha, uma das mais freqüentes é se acho que os livros e os jornais vão acabar, com uma ligeira variante: quanto tempo lhes dou de vida. Acho que desde antes mesmo de a internet se popularizar, o fim da palavra impressa era dado como certo pelos alarmistas; mas acho que as notícias sobre este fim têm sido vastamente exageradas.
Olho ao meu redor. Estou trabalhando em casa, no escritório, onde as paredes são forradas de estantes. Ainda assim, não há espaço que baste para os livros, que, em muitos casos, se amontoam em fila dupla. Na sala, na mesinha de centro, há mais livros – todos comprados ou recebidos nos últimos dias. Uma ida a qualquer livraria comprova o que está claro aqui: os livros continuam vivos e bem. Logo aqui, ao alcance da mão, está “Poesia completa e prosa”, de Manuel Bandeira, 745 páginas editadas pela Nova Aguilar. Ainda que eu encontrasse tudo o que este livrinho contém na web, nada substituiria a praticidade de tê-lo à mão e folheá-lo. Nem mesmo o Kindle, porque nem sempre sei o que estou procurando.
Livros e jornais são, no entanto, animais diferentes. A matéria dos livros é -- em tese -- feita para durar. A matéria dos jornais é, por natureza, efêmera, e extremamente sensível à velocidade da informação. Cada vez mais leitores buscam notícias na internet, campeã do tempo real; e milhões de pessoas acham mais simples e mais barato se informar pela televisão. Ainda assim, não vejo o fim do jornal impresso num futuro próximo, embora veja um jornal bastante modificado: a rigor, o jornal de hoje já é muito diferente do que o que fazíamos no mundo desconectado. A opinião passou a ter mais peso, as manchetes perderam o tom bombástico de revelações, as notícias diminuíram no papel para se ampliar online, o leitor está (muito!) mais presente.
Os blogs e as redes sociais são excelentes fontes de informação, mas a internet ainda está longe de cobrir todas as necessidades básicas do bípede bem informado. Uma comunidade geográfica se encontra no jornal diário e nas notícias, grandes ou pequenas, de que todos tomam conhecimento ao mesmo tempo. Eu posso ter certeza de que todos os meus amigos leram o Ancelmo, mas nunca sei exatamente quais blogs foram lidos por quem. Sem falar que grandes reportagens, como o recente levantamento dos gastos dos deputados com passagens, ainda são terreno exclusivo dos jornais: blogs individuais não têm envergadura para trabalhos desse tamanho, e os minutos da televisão não são suficientes para entrar em minúcias.
(O Globo, Revista Digital, 1.6.2009)
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