É verdade.
O Nassif está metido em jornalismo de cachorro grande e eu, como é público e notório, só escrevo sobre gato.
Ele há de ter suas razões, imperceptíveis à minha ingenuidade.
De modo geral, discordo da sua posição política, o que não há de ser surpresa para quem lê o que eu escrevo e lê o que ele escreve, se é que há quem se inclua em categorias tão díspares.
Mas isso é secundário, como é secundário o fato de, pessoalmente, nós termos respeito e simpatia um pelo outro. O que importa, aqui, é que a Veja decidiu processá-lo.
Péssima decisão!
A imprensa está vivendo um momento delicado, com processos de sobra movidos por terceiros. Para ficar apenas no exemplo mais recente, aí está a igreja universal do reino de deus disparando uma série de processos sobre a Elvira Lobato, através dos seus fiéis, no nítido intuito de silenciá-la.
Temos, além disso, um governo hostil ao "contraditório" (como eles gostam de dizer), louco para cercear a liberdade de imprensa.
Enfim: tudo o que não precisamos, agora, é que jornalistas fiquem se processando uns aos outros.
Já nem falo da trabalheira paralisante que dá um processo no Brasil. A parte econômica é pior. Se alguém quiser me mandar pra cadeia por alguma coisa que eu tenha escrito ou venha a escrever, vou me aborrecer, mas não vou entrar em desespero; ora, se até o Pimenta Neves continua solto...
Mas, vá lá, digamos que a Justiça seja dura comigo, que não tenho as costas quentes daquele assassino, e me mande mesmo pro xilindró. Eu vou. Alguém fica aqui em casa tomando conta dos gatos, o tempo passa, um dia eu saio e, podem apostar, volto a escrever o que quer que tenha me mandado pra lá em primeiro lugar.
Se em vez disso, porém, alguém me pedir indenização, estou frita, porque, à exceção de vender o apartamento, que é o único bem que possuo, não tenho de onde tirar dinheiro. E aí é
A lei, em suma, pode ser uma das formas de censura mais eficazes.
Por isso sou tão radicalmente contra qualquer processo movido contra jornalistas.
A Veja alega que responder à altura seria dar muita bola ao Nassif. Não dá pra negar que é um bom argumento,tanto que eu mesma o utilizo na área de comentários do blog. Pensando desapaixonadamente, se é que isso é possível no clima de Fla x Flu que domina o caso, por que é que, nas suas páginas, você vai abrir espaço para quem diz as piores coisas a seu respeito?
O Nassif -- que, ao contrário de mim, não tem nada de ingênuo -- não comprou briga com a Veja achando que ia ficar por isso mesmo. A essa altura, marcou pontos com todo mundo que ama o governo e/ou odeia a Veja e, de quebra, se pôs no centro das atenções dos colegas.
Não é pouca coisa.
Também pôs a Veja numa situação delicada. Ou ela rebate as acusações e, conseqüentemente, amplia a sua voz, ou o processa, dando chance a seus detratores de apontá-la como censora.
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Tenho certeza que, por trás dissso tudo, há muito mais coisa do que sonha a minha ingênua filosofia; esses são temas intrincados, e eu não domino essa área.
Mas, independentemente de qualquer coisa que me escape, sustento: jornalista não processa jornalista.
Essa frase é, aliás, do meu amigo Diogo Mainardi, que tem sido um dos alvos do Nassif (que, por sua vez, já foi alvo do Diogo).
Em suma: quem é mídia ou tem espaço na mídia, e se sentir ofendido com o que foi escrito a seu respeito, que vá pro computador e responda na mesma moeda.
Processar jornalista é coisa pra igreja universal do reino de deus ou pro PT (pensando bem, dá na mesma).
E pronto, chega, vou arrumar livros.
Estou cansada desse mundo sórdido em que estamos vivendo.
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