"É um dos meus desportos favoritos: chegar ao Brasil e falar, em tom blasé, de Diogo Mainardi. "Você leu a coluna dele na Veja? Muito boa", digo eu. O meu interlocutor cai num silêncio sepulcral. As veias do pescoço vão inchando como em certos filmes de vampirismo. O sangue concentra-se todo na cabeça. Os olhos, vermelhos e irados, saem das órbitas. A boca espuma. Os queixos tremem. Alguns levam a mão ao braço esquerdo e pedem uma ambulância. Deus do céu, eu já perdi a conta dos infartos, ou das ameaças de infarto, que a minha perversidade provocou em São Paulo e no Rio. Diogo Mainardi não é um colunista. É uma assombração.
Curioso. Irônico. Paradoxal. As mesmas pessoas que desmaiam na minha frente com o nome de Mainardi não desmaiam com uma elite política corrupta que usa dinheiro público tradução: dinheiro dos brasileiros para suas negociatas. O mal não está em quem rouba. Está naqueles que denunciam o roubo. Em condições normais, um país estaria grato aos jornalistas que vigiam e criticam o poder. Mas o Brasil não é um país normal. Aliás, Portugal também não é e pressinto aqui uma cultura histórica comum: quando um colunista abre a boca para criticar o governo, ele não critica o governo. Ele é um demente, um invejoso, um fracassado. E, em caso de discórdia, os leitores, para não falar dos colegas de ofício, não estão dispostos a contra-argumentar. Mas a censurar. O ideal não é discutir. É silenciar. Na impossibilidade de fuzilar. Curiosas mentalidades."
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