Quanto mais eu arrumo o escritório, menos arrumado ele fica. É meio desesperador, porque, por mais que eu saiba que é assim mesmo, não vejo, nem remotamente, um fim na tarefa.
Por curiosidade, andei fazendo os cálculos por alto. A estante é dividida em 102 módulos; em cada um cabem, em média, 25 volumes. Seriam uns 2.500 livros no total se, em vários desses módulos, não houvesse fila dupla.
Sem contar com os da sala, os do corredor ou os do meu quarto, acho que, num cálculo otimista (para este efeito, para baixo!), devo ter coisa de 3.500 livros para arrumar.
O total da casa está, imagino, aí pelos cinco mil.
Não é muito. Comecei a fazer minha biblioteca bem cedo, aí pelos 13, 14 anos. Ora, em 40 anos, são apenas 125 livros por ano, nem 11 livros por mês.
É claro que não conservo tudo o que comprei ou ganhei; ao longo da vida, devo ter deixado pelo caminho, quem sabe, metade do que tenho hoje.
De qualquer forma, eu não me sentiria feliz numa casa sem livros.
Alguém me perguntou uma vez, aqui nos comentários, o que eu achava da idéia do Paulo Coelho de ter apenas 300 livros em casa, nem um a mais, nem um a menos. Bom, pode ser que funcione para ele, que tem dinheiro para comprar a Biblioteca Nacional e o Real Gabinete Português de Leitura juntos e ainda guardar um troco; mas, na vida real, entre todas as pessoas que conheço e que gostam de livro, nunca vi isso acontecer.
É que os livros que a gente vai juntando ao longo da vida são mais do que folhas de papel com letras em cima; eles são marcos de certos momentos, certas fases, certos interesses. Exatamente como músicas.
Ora, alguém se conformaria em ter acesso imediato a apenas 300 músicas?!
Comigo, pelo menos, não funcionaria de jeito nenhum. Tenho tido as dúvidas mais complicadas aqui. "Os Lusíadas", por exemplo: tenho nas Obras Completas de Camões da Nova Aguilar; tenho numa edição simpática e boa de ler, de 1931, que comprei num sebo e que me acompanha desde sempre; e tinha duas edições facsimilares. Com qual ficar? Acabei me desfazendo de um dos facsímiles, porque é, de fato, mais uma curiosidade do que um livro. A minha edição batidinha de 1931 já abre nas páginas certas, nos trechos que eu gosto mais; impossível não guardá-la. E ninguém é doido de pôr fora As Obras Completas.
Ficar com a primeira edição de Lavoura Arcaica, com dedicatória do Raduan Nassar, ou com a terceira, bem mais bonita, revista, mas sem dedicatória? Essa nem vale, claro: fiquei com as duas.
Enfim: boa noite para vocês.
Entre uma arrumada e outra ainda estou às voltas com o Comissário Montalbano, e quero ver se termino "Guinada na vida" antes de ir dormir.
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