4.8.07

Irineu

Na segunda-feira passada, assim que cheguei da Espanha, tive que ir ao banco lá do jornal, por um assunto de grana tenebroso; cheguei nervosa e saí arrasada. Mas havia lá um gatinho abandonado que me seguiu, que me esperou na porta do banco e que me acompanhou, miando, até a entrada do jornal.

Fiquei brincando com ele. Estava sujo, magro e fedorento, mas era um ronronante carinhoso e engraçado.

Na terça comemorei meu aniversário com o Millôrzinho. Falei sobre o gato, e sobre a coincidência de ele estar lá naquele momento: como se a vida, aprontando uma cilada absurda, oferecesse, com a outra mão, uma felicidadezinha quadrúpede como consolo.

Na quarta, levei uma tijela e um pouco de ração para o jornal; o bichinho precisava de comida. Quando fui procurá-lo, lá estava ele, dormindo encostado ao meio-fio, numa vaga, correndo risco de ser atropelado.

Acordo quando me viu e se atirou na ração. Percebi que a pata dianteira direita estava bem machucada: ele nem a encostava no chão. Enquanto isso, a Neide já vinha com duas tijelinhas e uma garrafa d'água -- um conquistador nato, o gatinho!

Os rapazes do estacionamento disseram que ele fora abandonado há cerca de uma semana. Eles tinham comprado ração, mas o bichinho tinha medo dos fundos, onde ficam as motos, e onde o pessoal da limpeza deixaria as tijelinhas quietas.

Depois que ele comeu bastante, conferi a pata. Estava inchada, cheia de pus, horrível. Não podia ficar daquele jeito. De modo que, quando vim para casa, peguei uma caixa de papelão e trouxe-o junto comigo.

Antes mesmo disso ele foi batizado pelo Nelson:

-- Um gato no estacionamento? Tem que chamar Irineu...

(O Globo fica na Rua Irineu Marinho)

O nome pegou na hora. Quando cheguei em casa, já o apresentei ao Zé como Irineu.

O Alex veio vê-lo no dia seguinte. Deu-lhe um banho, constatou que estava magérrimo (o pelinho meio longo disfarçava a magreza) e cheio de vermes. O machucado da pata, tirando a gravidade da infecção, não é sério.

No momento, ele está em quarentena no quarto da Bia. É um gato de ótima índole: tomou banho e se deixou secar com secador, aceita os remédios que eu dou e pede carinho o tempo todo.

A Famiglia Gatto está MUITO cabreira, e me dando o tratamento que mereço, ou seja, me ignorando solenemente.

Tento manter a paz fazendo muito carinho em todos, distribuindo atum, frango e fígado, mas, com exceção do Mosca, que faz qualquer negócio por comida, os outros não estão embarcando nessa -- comem os petiscos e continuam me dando um gelo.

Hoje de manhã deixei o Irineu passear pela casa. Ele está muito curioso em relação aos gatos, mas até agora só tomou FSSSSS pela proa.

Normal.

Voltou pro quarto, de onde vai sair aos pouquinhos.

A minha idéia inicial era cuidar dele para passá-lo adiante, mas tenho a impressão de que, como a Pipoca, a Tutu e o Mosca, os outros "temporários", ele já se estabeleceu...

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