7.10.05



O ovo da serpente

É, eu sei, o que vem de baixo não deve, em tese, me atingir -- desde que eu não esteja, naturalmente, sentada num formigueiro -- mas, por mais que a gente vá aperfeiçoando, ao longo dos anos, a capacidade de ignorar os ignorantes, às vezes fica difícil manter o devido distanciamento da própria mailbox.

Hoje recebi uma mensagem lá no jornal que me perturbou. Não pelo que a moça disse, mas pela inacreditável ignorância histórica e pelo sentimento que revelou -- e vejam que esta é uma pessoa que está convencida de que não tem preconceitos, e que acha que "não é anti nada". Agora imaginem o que não é a cabeça de skinheads como os que fotografei em Berlim!
Li sua coluna. Posso entender seu sentimento, ou a falta dele.
Nunca achei que você pudesse emocionar-se com uma trajetória como a desses rapazes.
Você não poderia mesmo alcançar o cerne da questão. Tem revolta.
Outros tipos de revolta.
Lembro-me de sua crítica ao filme de Mel Gibson sobre a paixão de Cristo.
Creio que é judia, se não me engano. Deu pra sentir na época sua posição tão defensiva.
Meu avô sempre se perguntava porque aquelas pessoas não reagiam, apenas iam e iam de encontro ao que parecia ser seu destino.
Pessoas de outras nacionalidades lutaram muitos mais por elas que elas mesmas.
Talvez venha daí, sua herança pela falta de sentimento daqueles que lutam a despeito de todas as dificuldades.
Não tenho preconceitos nem sou anti nada, antes que me acuse de alguma coisa.
Apenas entendo porque não entrou em seu coração a mensagem da luta e da fé para vencer.
Da crença que um sonho pode mesmo tornar-se real e até ir além do próprio sonho.
Sinto muito por você. É uma pena que tenha saído do cinema com o coração tão frio... mas dá pra entender...

Cordialmente,

Paula Nogueira Pires
Peço desculpas a vocês. Sei que estou fazendo exatamente o contrário do que deveria fazer -- ampliando a voz dos idiotas -- mas, às vezes, a gente sente necessidade de socializar o estresse.

Nenhum comentário: