4.8.05



O que não se fez

As quantias escandalosas mencionadas pela corja dominante continuam me deixando perplexa; nem em jogo de monopólio vi cifras tão mirabolantes. Dói no coração imaginar quantas pessoas morrem por dia nos hospitais públicos por falta de recursos, quantas crianças ficam sem escola, quantas obras essenciais se deixam de fazer, para que esses canalhas se forrem de dinheiro.

Mas isso é só o que eu consigo imaginar de imediato e mais óbvio.

Ainda há pouco, arrumando a caixa postal, encontrei uma carta perdida da dra. Niéde Guidon, a extraordinária cientista da Serra da Capivara; a situação da região, que é patrimônio cultural nacional e mundial, está cada vez mais crítica.

O sítio arqueológico vem sendo sistematicamente invadido com o beneplácito das autoridades. É uma longa e lamentável história. A dra. Niéde, que não tem papas na língua e que luta contra todas as formas de ignorância e demagogia, já foi até ameaçada de morte -- mas o nosso esclarecido e preclaro governo, naturalmente, só vai reconhecer o seu valor se a ameaça se cumprir.

Eu fico arrasada com tudo isso!
Cora,

Achei perfeita sua crônica sobre a doença que tomou conta do Brasil desde a criação de Brasília.

Neste momento, estou cansada de correr o mundo atrás de recursos para a Serra da Capivara, um tesouro que poderia resolver o problema da fome nesta região (indo até Guaribas, onde também há sítios arqueológicos!) muito melhor do que com os famosos cartões que vão sempre parar em mãos erradas, atraindo três milhões de turistas/ano -- desde que as obras do aeroporto tivessem continuidade e o mesmo fosse aberto, hotéis fossem construídos, estradas deixassem de ser uma fita de buracos!

Em minha cabeça apareceu um lema que acho que é o único que poderia resolver o problema brasileiro: Delenda Brasilia!

Assisto aos depoimentos, vejo com que facilidade falam em milhões e penso que, agora em fins de julho, se não conseguirmos uma fonte de recursos, terei que demitir a todos e deixar o Parque Nacional somente sob os cuidados do IBAMA e do IPHAN. E não precisariamos mais do que R$ 400 mil por mês! E para aplicar em um patrimônio nacional, não em uma firma privada!

Nesta região, onde trabalho desde 1973, vi a corrupção transitar livremente nos governos militares, e no de todos os presidentes eleitos.

Acho que é mal endêmico e não tem cura.

Um abraço,

Niéde Guidon

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