1.8.05



Memórias da memória

Semana passada andei lendo a respeito do Lifedrive, da Palm. A leitura, curiosamente, me fez viajar no tempo, e me fez, mais uma vez, me encher de assombro com o que considero ser o verdadeiro milagre da tecnologia -- a espantosa multiplicação, miniaturização e barateamento da memória, isto é, da capacidade de armazenagem dos mais diversos produtos.

Sem memória abundante, miúda e barata, nada do que nos cerca e encanta no mundo da tecnologia seria possível, da web aos PDAs; jamais teríamos tido o "boom" da fotografia digital, a mania dos celulares com câmera, a coqueluche dos iPods e seus tantos primos tocadores de MP3, a febre dos games em suas diversas modalidades.

Sem memória, o mundo digital simplesmente não existiria.

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O Lifedrive é, essencialmente, um disco rígido com capacidade para 4 Gb. Basta plugá-lo a uma saída USB e ele será reconhecido como um drive externo. A este drive a Palm acrescentou uma tela linda, um bom software de gerenciamento de arquivos, som, Bluetooth e wi-fi. Ainda não vi nenhum em pessoa, mas é óbvio que é uma espécie de bombril hi-tech, com mil e uma utilidades.

Com 4Gb -- o espaço de um iPod mini -- é possível fazer muita coisa, de descarregar fotos de cartões a montar playlists variadas; a propaganda dá como exemplo do que cabe no aparelhinho 340 músicas, uma hora de vídeo, 1.200 arquivos do Office, dez mil contatos, dez mil compromissos, quase sete mil emails, mas de 50 memos de voz, mil fotos e 20 Mb de arquivos diversos -- tudo junto e ao mesmo tempo.

Um espanto.

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Meu primeiro disco rígido, um gigantesco tijolo MFM de uns dois quilos, tinha, justamente, os 20 Mb que figuram, hoje, como "contrapeso" da lista acima. Ele custou, nos idos de 1988, a espantosa quantia de US$ 750 -- equivalente a mais de US$ 1.250 em dinheiro de hoje.

Parênteses: para fazer cálculos sobre a inflação em dólar, há uma ótima ferramenta na web em inf.notlong.com. Fecha parênteses.

Pois o Lifedrive, com todos os seus 4Gb e preço de lista de US$ 499, já pode ser encontrado na internet, nos Estados Unidos, por cerca de US$ 400. E custa tudo isso porque, claro, não é feito apenas de memória: um disco rígido de 120 Gb sai, mesmo aqui no Brasil, a cerca de R$ 350.

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Quando comprei a primeira câmera digital, que produzia fotos à resolução de 320 x 240, cartõezinhos smartmedia vinham em unidades de 4Mb, 8Mb ou -- barbaridade! -- 16Mb. E custavam muito, muito caro.

Naquela época, o grande suspense da área era o seguinte: quando seria quebrada a barreira do Megapixel. Do um (01) Megapixel! O futuro parecia muito distante e praticamente inviável financeiramente.

Um dia a Sony lançou uma câmera revolucionária chamada Mavica, que não só fazia imagens de excelente qualidade em 640 x 480 como, ainda por cima, usava disquetes para armazená-las -- resolvendo, com isso, um dos principais problemas de então, o do preço insuportável dos cartõezinhos.

Corria o ano de 1995. A Mavica era tão boa, mas tão boa, que continua em cartaz -- feito extraordinário para uma câmera digital. Mudou muito, sem dúvida, mas aproveita a marca de confiança das inesquecíveis pioneiras e continua gravando em mídia barata -- atualmente, o CD-RW.

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Em 1981, quando a Seagate lançou o primeiro HD de 5?1/4, com 5Mb, a US$ 1.700, o custo de armazenagem do megabyte era de US$ 340. Para dar uma idéia, apenas uma música dessas que a gente grava em MP3 tem, tipicamente, uns 3 Mb ou 4Mb. Agora imaginem quem poderia ter iPods a este custo!

Em 1988, quando comprei aquele primeiro HD, a queda nos custos de armazenagem já havia sido significativa: um megabyte custava a bagatela de US$ 40.

Hoje há tal quantidade de dispositivos que este cálculo genérico tornou-se praticamente impossível de fazer. Mas também, quem liga? Não estamos mais falando em dólares, mas sim em centavos, ou mesmo em frações de centavos, de dólares.


(O Globo, Info etc., 1.8.2005)

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