Dos comentários
Gosto muito de conversar com a Bia Badaud, que é sensata, sabe das coisas, escreve bem e é mais enfezada do que eu, o que sempre é bom para treinar a retórica.Bia B: se as pessoas 'escutassem sinais', fariam dieta e exercícios, ao invés de procurar pílulas milagrosas de emagrecimento.
se escutássemos a natureza, não jogaríamos pra dentro do corpo lixo industrial como coca cola, e toda aquela tralha com aromatizante, edulcorante, aromatizante.
se tivéssemos bom senso não destruiríamos o meio ambiente em troca de moedas, como sempre fizemos.
teríamos aprendido alguma coisa com as bombas atômicas no japão, mas aquela catástrofe, serviu pra alguma coisa? nadica. não enxergar sinais desse tamanho não é característica de uma espécie de futuro.
e, sinceramente... por que ninguém fez campanha de coleta de alimentos pros africanos miseráveis, que aparecem esqueléticos na tv, de vez em quando, com moscas pousando nos lábios?
sinceridade. tive pena das pessoas lá, mas tem coisas que me deixam de mau humor.
Cora: Já pensei muito sobre este problema dos africanos também, Bia. A impressão que eu tenho é que o mundo desistiu emocionalmente da África: o dinheiro é sempre desviado, a ajuda nunca chega aos necessitados, as guerras continuam, tribos se matam e mutilam... é um desconsolo só, uma situação de guerra endêmica que desanima qualquer um.
No caso da tsunami há o efeito surpresa, o inesperado da tragédia, a dimensão. Numa segunda ou terceira tsunami não sei se o auxílio chegaria a uma fração do que está sendo.
Depois, mal ou bem, as pessoas atingidas agora viviam em sociedades que funcionavam: aldeias de pescadores, pequenas cidades, essas coisas. Não eram ricos, mas iam vivendo. É possível acreditar que, com a ajuda externa, algum dia reconstruirão o que for possível e seguirão suas vidas.
Acho que esta crença já não existe em relação à África, infelizmente.
Bia B: ... assim como mendigos em geral e crianças drogadas dormindo nas ruas também 'não funcionam', por isso não vale a pena ajudá-los...
não estou sendo irônica, ao contrário, agradeço sua resposta.
é mesmo, a gente geralmente tem mais boa vontade de ajudar a quem não precisa.
acho este raciocínio tão realista... porque é exatamente como somos. não paramos pra questionar um modelo de sociedade que gera populações inviáveis, na África, aqui no Rio, no mundo.
seguimos em frente, como diz a música do guilherme arantes, 'se há uma crise lá fora, não fui eu que fiz'.
não sei se é certo ou errado, se é lei de seleção natural ou falta de exercício de humanidade por parte da humanidade. só sei que é assim.
fico pensando o que acham disso as pessoas inviáveis, ou desinteressantes para o sistema. na boa.
Cora: Não é bem que a gente ajude a quem não precisa; aquele pessoal lá na Ásia está precisado até demais. Mas lá, imaginamos, a ajuda vai ser útil e vai resolver alguma coisa.
A ajuda vai ajudar.
O que desanima é a completa inutilidade da ajuda que não resolve nada. Você hoje manda 50 dólares para a Ásia, e há uma boa probabilidade de que este dinheiro, ou parte dele, de fato seja aplicada na reconstrução da área devastada. Mas mandar 50 dólares para a África equivale a jogar o dinheiro fora ou, pior, a reforçar o caixa dos donos da guerra, que usam a fome da população como arma.
Quanto aos meninos de rua, sinceramente, acho que muito dos que estão por aí não têm salvação. São filhos e talvez netos de crianças de rua, que cresceram sem qualquer noção de estrutura familiar ou social. Estão perdidos.
Podemos tentar salvar as futuras gerações; mas isso não vai ser feito nem com esmola nem com demagogia.
A única coisa que, a meu ver, pode dar jeito no problema, é criar um sistema de ensino decente, uma escola básica de verdade, e não a mentira que se vende como ensino básico, em que todos os alunos passam de ano automaticamente e saem da escola tão ignorantes quanto entraram.
Sem educação é inútil querer pensar no resto.
Discutir ensino universitário num país como o nosso é fazer cortina de fumaça, é fugir do x da questão. Cotas, não cotas, universidade para todos -- tudo inútil.
A grande reforma da educação, que já deveria ter começado há muitos anos, se resume a bom ensino básico, bom ensino básico, bom ensino básico. E bom ensino básico.
Eventualmente se poderia discutir também um ensino médio de qualidade; mas a triste realidade é que quando a base está podre não há estrutura que se sustente.
Tem que mudar tudo, a começar pela preparação e pelos salários dos professores. Computador na sala de aula é muito bom e muderno, mas sem um bom professor, respeitado pelos alunos, não adianta xongas.
Trouxe para cá porque esses comentários já estão lá embaixo e acho o tópico importante. Para quem acha que este blog anda falando demais de bichos, taí uma oportunidade de discutir humanos...
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