19.1.05



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Às 14 horas de hoje, o Museu dos Rios Brasileiros, conhecido popularmente pela designação de a Casa dos Vidros de Água, localizado no que antigamente foi o Largo do Arouche, recebeu uma afluência fora do comum. De repente, para espanto dos vigilantes, centenas de pessoas começaram a entrar e a se espalhar. Aparentemente, queriam apenas olhar os milhares de litros que continham as águas dos rios, riachos, ribeirões, nascentes, lagos, lagoas, fontes e olhos d'água de todo o Brasil.

A Casa dos Vidros de Água foi o mais completo e admirado museu hidrográfico do mundo, apreciado 'por especialistas do universo inteiro que ali sempre fizeram suas pesquisas hídricas. Organizado na década de oitenta por cientistas da Universidade de São Paulo, do Rio Grande do Sul, do Espírito Santo e da Paraíba, teve a colaboração de pesquisadores de todo o país. A cooperação popular foi grande. Levou-se doze anos para se atingir a perfeição atual.

Em dezenas de salas, cada uma abrangendo uma região, podia-se ver os litros, de colorações diferentes, além de gravuras, fotos, mapas, gráficos, legendas. A biblioteca e a filmoteca completavam o conjunto. A discoteca guardava relíquias, como o ruído das cachoeiras, principalmente da Foz do Iguaçu, o som da extinta pororoca, o murmúrio de regatos.

Quando os vigilantes se despreocuparam, relaxando a fiscalização, tudo aconteceu. Em questão de minutos. Sem que houvesse qualquer chance de impedir. As pessoas passaram a abrir os vidros e a beber a água. Bebiam e se molhavam. Saíam com as roupas ensopadas. Quando os Civiltares chegaram, minutos depois, sobrava um só vidro fechado. A maioria dos depredadores fugiu, arrebentando portas e janelas. Alguns foram presos. Suspeita-se que tenham sido aliciados por alguma organização. Sabe-se que no começo da tarde espalhou-se o boato de que a Casa dos Vidros de Água estava sem corpo de guarda. E que havia muita água estocada lá dentro.


Li isso há tanto tempo que esqueci.

Hoje, passeando pelo Pacato Cidadão, excelente blog da Deize, me reencontrei com o texto do Ignácio de Loyola Brandão, extraído de Não verás país nenhum, passado num futuro em que tudo o que resta dos rios brasileiros está no museu destruído.

É uma viagem, mas a gente que não se cuide...

Afinal, houve um tempo em que 1984 também era só ficção.

Grande lembrança, Deize!

Um comentário:

dalaset disse...

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