"An affair to remember..."
Minha primeira impressão da Olympus C-8080 Zoom foi excelente: a câmera é bonita, sólida, bem construída, boa de pegar. Minha segunda impressão foi triste: as fotos saíram super-expostas, sem definição, com cores pálidas. Muito frustrante! Não era o desempenho que eu esperava de câmera tão promissora.
Tínhamos pouco tempo para nos entendermos, apenas quatro dias, e em condições particularmente difíceis de trabalho. É que peguei a máquina do Nelson, que a estava oficialmente testando, e a levei comigo para Rondônia, quando fui ver as filmagens de "Mad Maria".
Nunca viajo de sapato ou máquina fotográfica novos, mas esta chance era tão especial que resolvi mandar a prudência às favas. Como leitura de bordo levei o manual, porque de "user-friendly" a C-8080 não tem nada: ela definitivamente não é a câmera para quem quer apontar, disparar e se deliciar com as fotos, sem se preocupar com nada.
* * *
O primeiro dia no set foi um desastre. As condições de luz eram complicadíssimas, com contrastes muito acentuados entre o que o sol iluminava e o que as árvores encobriam. Apanhei até mesmo com as fiéis Sony P-10 e Kodak DX6490, mas com a C-8080, sinceramente, não tive um só momento de alegria.Por outro lado, a experiência foi muito importante para me orientar em relação ao que precisava conhecer melhor na câmera. Resultado: à noite, em vez de me deliciar com "Mad Maria", do Márcio Souza, que estava relendo para entrar no clima das gravações, continuei às voltas com o manual ? desta vez lado a lado com a máquina.
No dia seguinte, mais familiarizada com a C-8080, pude começar a me divertir com ela. Para ficarmos realmente íntimas, imagino que precisaríamos de pelo menos mais duas semanas de convívio; mas o breve tempo que passamos juntas foi suficiente para que eu percebesse as infinitas possibilidades que ela oferece a quem se dispõe a conhecê-la.
Gostei particularmente de algumas características desta esplêndida câmera. A velocidade de resposta é sensacional, praticamente tão rápida quanto a de uma câmera tradicional; tanto o visor quanto o display são claros e bons, mas, curiosamente, usei mais o visor do que o display ? talvez por causa do próprio design da câmera, talvez por causa do peso, talvez por causa da luz complicada em que trabalhava.
O display, basculante, ajuda a quem quer fotografar muito de cima ou muito de baixo, mas poderia nos fazer o favor de virar também para o lado; a flexibilidade oferecida entre a grande angular e o zoom óptico 5X -- equivalente a 28-140mm -- é um luxo.
Afinal acabei gostando muito da qualidade das imagens, ainda que, às vezes, a máquina não conseguisse acertar o foco de primeira; mas também pudera, coitada! Na floresta amazônica nem os olhos da gente acertam o foco de primeira...
A reprodução das cores, uma vez que se ganhe alguma intimidade com a câmera, também é boa; para o meu gosto é pouco saturada, mas como este é um dos comandos que se pode modificar, não chega a ser um problema. Na verdade -- e isto é uma raridade no ramo -- nada é um problema na C-8080, exceto o que os americanos gostam de chamar de "curva de aprendizado", e o preço, sobretudo no Brasil.
Nos Estados Unidos, já é possível comprá-la por cerca de US$ 700; aqui, os preços, muito desiguais, andam em torno dos R$ 3.800.
Em termos absolutos, levando-se em consideração as muitas qualidades da Olympus C-8080, nem é tanto assim; mas em termos relativos, num país de salários capengas como o nosso, ainda é demais.
Só nos resta desejar que 2005 seja um ano tão bom, mas tão bom, que a gente possa olhar uma etiqueta com um valor desses sem se assustar.
(O Globo, Info etc., 3.1.2004)
Nenhum comentário:
Postar um comentário