1.11.04





Bike in Rio, a polêmica

Muito interessante o rumo que tomaram os comentários no post sobre o passeio de bicicleta. A cidade anda tão intranqüila que o singelo relato de uma tarde de lazer por pouco não vira roteiro de aventura.

Não é à toa que as pessoas estão assustadas. O Rio está mesmo violento. É uma cidade sem lei, onde o suposto secretário de segurança se dá ao luxo de deixar o cargo para fazer campanha por um pudim.

Faroeste perde.

Mas -- não minimizando em absoluto o caos em que estamos mergulhados -- maior do que a violência é o sentimento de insegurança. E, a meu ver, é isso o que mais tem afetado as nossas vidas.

A gente saber que pode ser assaltado logo ali, a qualquer hora do dia ou da noite, é uma violência enorme, ainda que a gente jamais venha a ser assaltada. O pior é que é isso que leva as pessoas a se trancarem, a evitar a noite, a viver sem paz.

Não tenho dúvida de que um dia vai chegar a minha vez. Já fui assaltada em Olinda, em Salvador e em Roma; em Nova York levaram a minha bolsa no front desk do Drake, um hotel supostamente chique.

As estatísticas estão contra mim aqui no Rio, onde nunca me aconteceu nada [toc toc toc].

Ainda.

Mas vivo aqui, amo esta cidade e não quero deixar de aproveitar o privilégio de ser daqui.

Não que eu me recuse a tomar conhecimento da situação; apenas não vou deixar de viver a vida porque, um dia, alguém pode (vai) me levar a bicicleta e/ou a máquina, ou mesmo (tomara que não!) me dar um tiro.

A minha idéia, porém, é que, se a gente se deixa influenciar excessivamente por isso, acaba agindo como aquelas pessoas que não se envolvem com ninguém por medo de sofrer no futuro, ou que não têm bichos de estimação porque, quando eles morrem, a gente quase morre também.

Claro que tomo precauções; também não sou doida! Guardo a chave num bolsinho interno da bermuda, por exemplo, ou pendurada no pescoço: ficar sem bicicleta é chato, mas pior é, num caso desses, ficar trancada do lado de fora da casa. Levo apenas o crachá do jornal, porque tiro segunda via no dia seguinte, sem burocracia.

Também não saio de bicicleta usando jóias; guardo a câmera numa bolsa de pano comum, sem qualquer aspecto hi-tech. A bicicleta, como vocês já viram nas fotos, é a Caloi mais simples que há.

Evito fotografar perto de grupos suspeitos -- mas tento evitar mais ainda a paranóia de achar que todo mundo é suspeito. Há mendigos que se abrigam embaixo de uma árvore no território da capivasca. Pois são só mendigos; nunca tive problema com eles.

Sinceramente? Ontem tive mais medo de ser atropelada ou de atropelar alguém do que de ser assaltada, porque nunca havia andado antes no trânsito.

E pronto, é isso.

Confesso que adoraria ter uma bicicleta melhor, e gostaria muito de poder sair com as duas câmeras -- mas aí seria provocar demais o destino, e eu não abuso da sorte.

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