24.2.11

Visita ao Galeão




Foi só eu avisar que tinha aceitado o convite da Infraero para visitar o Galeão que choveram advertências na minha caixa postal. Havia a idéia geral de que eu não devia fazer a visita guiada pela Infraero, mas sim, sozinha: caso contrário, veria um aeroporto completamente diferente da realidade.

Entendi a preocupação, mas era exatamente essa a minha intenção. O Galeão que está aí eu conheço bem. O que eu queria ver, justamente, era o tal Galeão que a Infraero afirma existir, um grande aeroporto, em obras, preparando-se para o futuro e para oferecer bons serviços.

Fui recebida pelo Andre Luis Marques de Barros, superintendente do aeroporto; pelo Lucinio Baptista da Silva, superintendente regional; pela Silvia Vilanova e pela Debora Mello, da assessoria de imprensa; e mais a Lea Cavallero, que havia respondido à crônica em que eu descascava o aeroporto. Um comitê de recepção e tanto.

Começamos o tour pelo Terminal 2 – não na parte que conhecemos, mas no espaço da foto, que fica atrás da área de embarque e que vai realmente ampliar muito o Galeão. Às 48 atuais posições de check-in do T2 serão acrescentadas outras 64, e às dez cabines da Polícia Federal, outras 28. O piso já está colocado, e o lugar tem um aspecto quase habitável; se fosse um apartamento, eu diria que falta parte dos acabamentos e a mobília. Ficará pronto no ano que vem.

* * *

Não recebi apenas advertências na mailbox. Recebi também incontáveis queixas, reclamações e sugestões de perguntas a serem feitas às autoridades competentes. Levei várias dessas broncas comigo. A Luciana Misura, por exemplo, que tem uma filhinha pequena, fica particularmente indignada com o tamanho dos banheiros e com a ausência de fraldários:

“Por que a área de embarque não tem um fraldário? Passamos pela Polícia Federal, segurança e, enquanto esperávamos o embarque começar, Julia sujou a fralda. Fomos informados que não tem lugar para trocar uma fralda!”

Segundo André Luis, a questão dos banheiros está na ordem do dia. Há lojas fechadas ao lado dos atuais, cuja área será incorporada a eles. Com isso se ganhará espaço e um bom fraldário na área de embarque. A Infraero, me disse ele, tem o maior interesse em passar o máximo de serviços possível para as áreas restritas, porque o público que circula nas áreas gerais não respeita nada.

-- Nós instalamos 180 ganchos nos banheiros para as senhoras pendurarem as bolsas e, num único fim-de-semana, foram todos roubados, -- lamenta o superintendente. – O material de serviço desaparece, as torneiras são levadas, o que pode ser carregado geralmente é.

Mais tarde, passando por um dos banheiros (que, aliás, estava bem limpo) vi um daqueles cheirinhos de ambiente fechado numa gaiola de madeira trancada a cadeado. Tive que ser solidária com a turma da Infraero. Trabalhar assim é difícil.

* * *

“Terça, num vôo de Lisboa para o Rio, esperei 90 minutos pelas minhas malas, -- reclamou a Celina D’Araujo. -- A esteira rodava com malas esparsas, parava de vez em quando. Onde estão os funcionários? É de fato um abuso!”

Lucínio Baptista da Silva, o superintendente regional, me explicou que um dos grandes problemas da Infraero é levar a culpa por atrasos e transtornos causados aos passageiros por outras empresas e agentes – no caso específico da Celina, a inspeção da Vigilância Sanitária. Passageiros que chegam ao Brasil procedentes da Peninsula Ibérica correm mesmo o risco de esperar horas pela bagagem, porque, de cada dez malas, constatou-se que seis contém queijos ou presunto, cuja entrada é proibida no país. Já quem chega de Miami enfrenta a mesma demora, causada, porém, pela Polícia Federal, que passa mala por mala pelo Raio-X em busca de contrabando.

A Infraero também leva a culpa quando há poucos agentes na imigração, quando aviões param em posições remotas e quando os passageiros têm que esperar dentro dos aviões pelos ônibus para levá-los ao terminal.

-- Nós temos ônibus de sobra, -- disse André Luis. – Cabe às companhias aéreas prever a quantidade de ônibus de que vão necessitar, e solicitá-los em tempo hábil. Só pedimos um mínimo de organização. Quando ele não acontece, sobra para o aeroporto. Mesma coisa em relação às malas, cujo manuseio também é de responsabilidade delas.

As esteiras, campeãs de reclamações, são mesmo umas porcarias. Mas – isso eu vi – estão sendo trocadas. No dia em que fui ao aeroporto, a primeira nova esteira do Terminal 1 estava em fase final de instalação. Ainda esse ano, garante a Infraero, o problema estará resolvido: as novas esteiras ocupam uma área maior e as malas ficarão rodando à vista dos passageiros, sem sumir por trás da cortina.

Outros campeões de reclamações, os elevadores e aparelhos de ar refrigerado, também estão em vias de troca. Por causa disso, algumas áreas de elevadores têm estado isoladas e há dias em que o ar, em certos setores, não funciona. Vi as caixas desses trambolhos todos por lá, andei num dos elevadores novos e vi vários novos aparelhos de ar já instalados.

* * *

Fiquei bem impressionada com as obras. Acho que vamos continuar nos irritando ainda por uns tempos, mas, se tudo correr bem, teremos um aeroporto bastante direito no fim do ano que vem. Resta saber se o governo do estado está interessado nisso e se vai fazer a sua parte. Vale lembrar que, entre outras coisas, aeroporto sem bom transporte público para a cidade que serve é sempre péssimo para o usuário, independentemente de quantas camadas de mármore tenham as suas colunas.  


(O Globo, Segundo Caderno, 24.2.2011)

Nenhum comentário: