12.2.11

Fotos voadoras




O ser hi-tech é, essencialmente, um comodista. Para fotografar antes das digitais era preciso carregar o filme na máquina, revelá-lo e fazer cópias das fotos – e todos achavam isso perfeitamente normal. Hoje, já reclamamos do “trabalho” de conectar a câmera ao computador, ou de ter de tirar o cartão da máquina para que possa ser lido pelo notebook...

Se ficasse só por isso, já era um desaforo; mas se você é como eu, muitas vezes as fotos passam semanas no cartão da câmera, porque já tivemos a satisfação – a tal “gratificação instantânea” – de vê-las no display, e ainda há espaço de sobra no cartão para muitas e muitas mais.

Pois é aí que entra uma pequena maravilha da tecnologia chamada Eye-Fi (www.eye.fi), um cartão SD aparentemente comum, que grava as suas fotos como qualquer outro, mas que, além dessa função corriqueira, conecta-se à rede wi-fi da casa (ou qualquer outra para a qual tenha sido programado). 

Funciona assim: você sai, fotografa (ou filma) à vontade, volta para casa e liga a câmera. Em dois tempos, o Eye-Fi transfere o conteúdo do cartão para o PC. Comprei um de 4Gb pelo e-Bay e, sinceramente, não sei como vivia antes dele.
A marca ou modelo de câmera utilizados não fazem qualquer diferença; mas, pelo sim pelo não, a página da Eye-Fi tem informações completas sobre todos os tipos de câmera compatíveis e, pelo que percebi, oferece suporte em casos de incompatibilidade.

A programação do cartão é feita no computador, onde se pode especificar para qual diretório as fotos ou vídeos devem ser transferidos e, também, programar várias opções de nuvem, da distribuição automática via Flickr, Facebook ou uns vinte serviços semelhantes a espaços mais discretos, como Picasa ou a própria Eye-Fi, que tem um bom sistema de backup online. Também é possível escolher quais imagens serão transferidas, quais não.

Independentemente disso, fotos e vídeos permanecem no cartão, a menos que se opte pela possibilidade de se ter um “cartão infinito”. Nesse caso, o usuário determina quanto espaço livre quer ter sempre no SD, e o Eye-Fi elimina automaticamente o material mais antigo para manter a proporção. O default é 50%, mas eu, que fotografo a rodo, preferi ter 80% livres.  

Os SD Eye-Fi vêm em três modelos: Connect, Explore e Pro. As duas diferenças entre o Connect e o Explore podem ser resolvidas por meio de upgrades (pagos) posteriores: Geotagging e acesso ao hotspot, que só interessa a quem vive ou viaja muito aos Estados Unidos. O Pro é outra espécie de animal: sobe arquivos RAW e faz transferências ad hoc, ou seja, se comunica  com o notebook do freguês sem necessidade de um roteador wi-fi nas imediações. Os preços nos Estados Unidos vão de US$ 50 (Eye-Fi Connect 4Gb) a US$ 150 (Eye-Fi Pro 8 Gb).

Durante a CES, a Eye-Fi anunciou que, em breve, os cartões poderão se conectar diretamente aos smartphones dos usuários. Isso amplia a mobilidade e as possibilidades de transferência de fotos e vídeos praticamente ao infinito: de onde houver uma rede 3G, o usuário de um cartão Eye-Fi poderá transmitir o conteúdo da sua câmera, seja ela uma modesta compacta ou uma sofisticada DSLR. O melhor de tudo é que, como todos os upgrades da empresa, este também será backwards compatible, ou seja, será oferecido, gratuitamente, a quem já é usuário Eye-Fi. 

Quem tem iPhone pode ter um gostinho da experiência baixando a app Eye-Fi da Appstore. Recomendo, até porque não custa nada.

* * *

Nem só de WikiLeaks vive o mundo das inconfidências. A semana tecnológica foi marcada pelo vazamento de um memo interno em que o CEO da Nokia, Stephen Elop, chama as tropas às falas, reconhecendo que a empresa está perdendo terreno em todos os campos a uma velocidade meteórica. Já não era sem tempo: a Nokia (de que sou fã: continuo usando o N95) parecia viver numa bolha empacada no distante ano de 2007, quando o iPhone foi lançado, e virou o mundo dos smartphones de patas pro ar. A íntegra do memo, para quem lê inglês, está AQUI.  


(O Globo, Economia, 12.2.2011)

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