10.2.11

Com a palavra, a Infraero



  
Algo estranho acontece no Galeão. Todos nós, viajantes, odiamos o aeroporto – que, misteriosamente, parece ser amado pelos que lá trabalham. É compreensível que as pessoas defendam seu local de trabalho, mas a turma do Galeão o trata como se fosse membro da família. Da penúltima vez que escrevi sobre o aeroporto, há cerca de três anos, recebi um email comovente do Wilson Massa, então seu superintendente. Agora, acabo de receber outro, da Léa Cavallero. Considerando que ela é superintendente de Marketing e Comunicação Social da Infraero, pode-se alegar que não faz mais do que a sua obrigação; ainda assim, como o assunto diz respeito a todos nós, que já sofremos nesse aeroporto, passo a palavra para ela. O email está editado: havia uma lista de consertos e benfeitorias que não cabia aqui.  

“Sobre sua última coluna -- “Um caso antigo” -- em que cita nosso Galeão, gostaríamos de expor alguns pontos. Sei que talvez não tenhamos voz no jornal O GLOBO, ou mesmo que a prezada colunista não entenda nossa angústia ao tentar nos defender de maneira honesta e pontual, para que possamos dar melhor entendimento ao que realmente está se fazendo em prol de um dos nossos principais aeroportos.

A atual gestão da Infraero tem se esforçado ao máximo para recompor o Galeão e devolver aos passageiros um aeroporto plenamente eficiente. Nova gestão? Sim. Muito investimento? Sim. A empresa tem reforçado e priorizado esta meta? Sim. Creia que muito se fez em 2009, mais ainda em 2010 e os planos não terminam em 2011. E, mais uma vez, Cora, vamos garantir a Copa de 2014 e outros eventos. Apostamos e trabalhamos para isso.

Atualmente, a Infraero realiza as obras de finalização do Terminal 2, que compreende a instalação de equipamentos e a execução dos acabamentos em cerca de 50% do prédio, com previsão de término para agosto de 2012. Também está sendo feita a revitalização e modernização do Terminal 1, no qual vários serviços  já foram concluídos. É o caso dos três setores de embarque, entregues entre janeiro e julho de 2010. As reformas incluíram troca do forro e das luminárias, instalação do granito das colunas, nova sinalização vertical, entre outras melhorias.

Para 2011, está previsto o término da substituição de todos os 60 elevadores dos dois Terminais de Passageiros e demais instalações do aeroporto. Além disso, outros serviços programados são a adequação do sistema de pistas e pátios para operação de aeronaves como o Airbus A380, a reforma do sistema de luzes de aproximação e a reforma do Terminal de Exportação e do Terminal de Logística de Carga.

Após o término das obras nos dois Terminais, o Aeroporto do Galeão passará a ter capacidade para processar 26 milhões de passageiros ao ano. Como você mesma comparou com o Aeroporto de Las Vegas, vamos considerar o seguinte: o Aeroporto MacCarran processou, em 2010, 40 milhões de passageiros, dos quais 60% internacionais. O Galeão, no mesmo ano, teve cerca de 12 milhões de passageiros, dos quais menos de 25% internacionais. A cidade do Rio de Janeiro tem cerca de sete milhões de habitantes e Las Vegas, como você citou, cerca de 600 mil. A cidade de Las Vegas, com certeza, deve propor atrativos que justifiquem esses números. Certo?”

* * *

 Mais ou menos, Lea. O Rio é um destino turístico muito mais interessante do que Las Vegas. Que aquela cidade receba tantos milhões de turistas a mais do que nós depõe contra todos os órgãos responsáveis pela divulgação do Brasil no exterior e contra a própria administração do Rio.

Eu não fazia idéia de que passam tantas pessoas anualmente pelo MacCarran. Esses 40 milhões de passageiros satisfeitos apenas comprovam minha percepção a respeito da sua superioridade: ele dá a todos uma sensação de conforto, eficiência e espaço que o Galeão, com pouco menos de um quarto da sua freqüência, não proporciona.

* * *

“Cora -- continua a Lea -- o Aeroporto do Galeão não pode ser considerado o pior. Em nenhum momento. Operamos abaixo da capacidade. Gostaríamos que fosse mais usado pelas companhias aéreas, nacionais e estrangeiras.

Enfim, para finalizar, convido-a para conhecer de perto tudo que foi feito e que está sendo realizado. Nossos superintendentes a receberão para uma visita aos bastidores do Aeroporto e no que for mais preciso para que sua sensibilidade jornalística reflita para uma nova realidade.

Receba um abraço de todos aqueles que acreditam e fazem tudo para que o Galeão seja um orgulho para os cariocas.”

Convite aceito. Vou conhecer os bastidores do Galeão, e depois conto para vocês.

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Millôr diz que viver é desenhar sem borracha. Diz também que é como atravessar uma chuva de tijolos: a gente escapa da maioria deles, mas às vezes um acerta um ombro, às vezes pega meio de lado, às vezes parte um joelho. As marcas das tijoladas vão se acumulando, dentro e fora, até aquele tijolo que acerta em cheio. Gosto dessa metáfora. Acredito em tijolos, e acredito em cacos de tijolo, nas sobras de um tijolo específico destinado a determinado passante que, sem propósito ou querer, acerta os outros à sua volta, aquilo que em linguagem de guerra os angloparlantes chamam de collateral damage.

Não estou simpatizando com 2011. A quantidade de tijolos está acima do suportável.


(O Globo, Segundo Caderno, 10.2.2011)

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