Na quarta-feira fui conversar sobre crônicas e mídias sociais no Quarta às Quatro, promovido há cinco anos pelo Victor Iorio na Biblioteca Nacional. É um evento muito simpático, aberto à população, e geralmente freqüentado por alunos de escola pública que ouvem o papo do dia depois de uma visita guiada por aquele fantástico templo de livros.
Havia, pois, uma turma de alunos de ensino médio, acompanhada de seus professores, além do público avulso de hábito. E havia uns medos sempre manifestados quando se fala em estudante, internet em geral e mídias sociais em particular. O mais freqüente, e mais antigo, é que a internet estaria “desensinando” as regras da escrita aos jovens. Isso já foi preocupação em relação ao MSN, e hoje, pelo visto, migrou para o Twitter, onde a necessidade de mandar o recado em 140 caracteres gera uma profusão de abreviaturas.
Não acho grave. Mais grave do que abreviar palavras ou usar miguxês (que, me parece, já está ficando “antigo”) nas horas vagas, é não aprender a escrever direito na escola. Pode-se escrever mal sem problema, desde que se saiba como escrever bem. A garotada sabe que uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.
Na verdade, considero o Twitter um grande aliado da boa escrita. A concisão necessária para dizer algo relevante em 140 caracteres não é fácil de alcançar. A partir do momento em que alguém dispõe de espaço tão exíguo para se manifestar, precisa pensar melhor o seu texto, e precisa aprender a separar o que é essência do que é excesso.
Outro medo – este, na verdade, um problema. Pede-se um trabalho a um estudante, ele vai ao Google, dá um corta&cola e prontinho, trabalho feito. Que fazer em relação a isso? Primeira coisa, saber que os paradigmas mudaram, e que o que se fazia antes na biblioteca pública hoje se faz no computador.
Já houve tempo em que os professores pediam pesquisa e os alunos copiavam letra por letra o texto da enciclopédia ou de algum livro didático. É verdade que, talvez, com o ato de copiar, absorvessem uns resíduos culturais que o corta&cola não tem, mas não há mais volta na forma de pesquisar.
Sendo assim, porque não aproveitar a oportunidade e ensinar aos alunos como fazer boas pesquisas na internet? É preciso ensinar que nem sempre o primeiro resultado vale, é necessário que aprendam a comparar várias fontes, é fundamental que desconfiem de qualquer informação que não consigam checar melhor. Tudo isso é aprendizado, e aprendizado muito útil para o seu (deles – e nosso também) tempo.
Como estimular os alunos a escrever? Fazendo-os escrever onde os colegas possam lê-los. Por exemplo, criando um blog da classe para as redações, onde, além das notas dos professores, eles possam contar com os comentários dos colegas. Fazendo blogs temáticos dividos pelos vários interesses da turma – futebol, cinema, balada. Tudo é assunto.
O Facebook também é um bom ponto de encontro, uma espécie de grande blog comunitário onde as crônicas do cotidiano dos amigos se cruzam num espaço virtual. Ele tem sobre os blogues tradicionais a vantagem de reunir mais rapidamente uma massa de leitores, e de permitir que uns tomem conhecimento automático do que outros escreveram.
A internet pode ser uma grande aliada do ensino. O importante é que ninguém tenha medo de novidades, e de experimentar novas receitas. O mundo está mudando mais rápido do que jamais mudou, mas nós somos parte integral dessas mudanças – e a cara que o mundo vai ter depende, e muito, do que vamos fazer dele.
(O Globo, Revista Digital, 18.10.2010)
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