25.10.10

Ensino: falam os mestres

Hoje deixo a palavra com dois leitores que fizeram comentários no blog a respeito da coluna da semana passada. Vocês se lembram, não? Falei basicamente sobre o uso da internet na educação, e fiquei encantada com o depoimento do professor Marcelo Freire e do trabalho que vem fazendo; da mesma forma, é muito alentador o que escreve o José Lima, especialmente a respeito do trabalho desenvolvido por uma professora que usa o Facebook como ferramenta de ensino. É bom perceber que a turma está atenta e sensível aos desafios da vida online:

“Sou professor de História da rede pública do município do Rio, trabalho em duas escolas na Ilha do Governador. Neste 2o semestre iniciei uma atividade com os alunos que procura reformular o sentido de pesquisa que empregávamos até então. Eu já mantinha um perfil no Orkut para comunicação com os alunos e um blog pessoal, que também trata de algumas questões profissionais. A primeira idéia, então, foi provocá-los para identificarem imagens postadas no blog que fossem relacionadas aos assuntos abordados e que estabelecessem a relação com a matéria, enviando um comentário através do blog com indicação de fonte de pesquisa até uma data determinada, quando os comentários seriam liberados e todos poderiam comparar as respostas. A idéia é utilizar a linguagem visual, obrigá-los a pensarem em palavras-chave para desenvolverem a pesquisa e valorizarem a procura de fontes que atendam ao pedido, já que elas precisam ser apresentadas e estabelecemos regras para que não se repitam. Ao final, podem checar as respostas dos colegas e verificarem as diferenças entre elas. Curiosamente, as duas escolas públicas onde trabalho possuem laboratórios de informática relativamente novos, mas que lamentavelmente possuem computadores lentos e filtros de bloqueios para Orkut, You Tube e outros que acabam travando a atividade dos que não tem acesso à internet em casa. Já trabalhamos com releituras renascentistas, a ideologia do Cazuza, alguma coisa do Monty Python, e a resposta tem sido interessante. Espero que tenha colaborado de alguma forma para exemplificar tentativas de romper com o simples corta/cola que se faz desde o tempo da Mirador. (Marcelo Freire)

“Depois de um longo tempo em coma induzido, a escola finalmente começa a acordar. Há vários grupos de pesquisa em Educação que exploram o papel da criatividade e da imaginação no ensino, incluindo também o ensino superior. Um deles é o The Imaginative Education Research Group (http://www.ierg.net/). É preciso atiçar a imaginação e a criatividade das novas gerações. O mundo pertence àqueles que inovam, que vão além do que é trivial. Uma amiga minha que ensina introdução à teoria literária propôs aos alunos a criação de perfis imaginários no Facebook para as personagens dos livros que serão analisados. Os alunos estão adorando a empreitada. Achei a idéia fantástica e fiquei tentado a escrever o perfil de Madame Bovary para o Facebook. A grande dificuldade em levar as inovações para o grande público esbarra na necessidade de treinamento e requalificação de professores. As escolas públicas no Brasil estão também superlotadas. Fica difícil ser criativo e prover feedback individual quando se trabalha com mais de 45 alunos por classe. De uma forma ou de outra, a escola vai mudar. E eu vejo essa transformação como a coisa mais importante para definir o futuro da raça humana. Há apenas duas coisas realmente importantes na vida. Uma delas é a Educação. E a outra não é tão importante assim. (Jose Lima)


(O Globo, Revista Digital, 25.10.2010)

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