20.9.10

iPhone 4: a noite da social

Quinta-feira, dia 16, 22h30, Barrashopping: corredores vazios, lojas fechadas. Aqui e ali um comerciante atrasado confere uns papeis ou arruma umas coisas, mas, no geral, o shopping se prepara para a noite. Quem tem um mínimo de discernimento busca a saída mais próxima, certo? Hmmm... quase certo, exceto pelo detalhe da data. Explico: é que, à meia-noite, começava o dia 17, primeiro dia de venda do iPhone 4 no Brasil – e, do lado de fora da loja da Vivo, nesse fim de expediente, já havia uma fila considerável, à qual se juntavam ainda malucos que não paravam de chegar.

Desde que a Microsoft inventou a moda da venda à meia-noite, ainda no milênio passado, não se faz mais um lançamento para geeks em horário normal; assim é que as filas noturnas viraram tradição tech. Para quem está de fora, parece programa de índio. Qual é a diferença entre comprar um sistema operacional ou um celular à meia-noite do primeiro dia de vendas ou às dez da manhã do mesmo dia ou – vá lá -- às quatro da tarde do segundo dia? Ou, esconjuro!, em algum momento do terceiro dia?!

Também já pensei assim, especialmente em relação às filas mais radicais, em que cidadãos montam acampamento às portas das lojas, e passam dias dormindo no chão pelo prazer (?) de ganhar umas poucas horas de dianteira em relação aos seus semelhantes. Continuo desconfiada que essa relação custo x benefício não compensa, mas hoje acho engraçadas as filas menos sofridas. A questão é que ter o produto é só um detalhe; o divertido é encontrar outras pessoas com a mesma determinação e o mesmo gosto pela novidade. O barato é a festa, a social.

Aqui no Rio, estar entre os primeiros proprietários do iPhone 4 foi um pouco mais complicado do que na maioria das outras cidades: as duas lojas que deram plantão para agradar aos aficcionados estavam em shoppings – a já mencionada Vivo no Barrashopping, e a loja da Tim no New York City Center, também na Barra, onde – diziam -- a fila dobrava a esquina. E em shoppings, como é sabido, não se entra depois do horário de fechamento.

A estratégia de lançamento do iPhone 4 foi, portanto, um pouco diferente da vida selvagem habital. Os clientes interessados tiveram que se inscrever previamente para o lançamento, e seus nomes estavam na portaria. Nas lojas, eram esperados com coquetéis e salgadinhos chiques; mas quem queria saber de coquetel? O negócio era correr para a fila, para pôr logo as mãos no cobiçado celular...

Depois, sim, tudo era festa. Os vendedores, que poderiam estar aborrecidos com as longas horas extras, estavam entre os mais empolgados: tiravam fotos das filas, da decoração e uns dos outros. Para eles, afinal, aquele também era um momento ansiosamente aguardado: há meses só se fala em iPhone 4 no mundo celular. A madrugada ia alta quando voltei para a planície, mas as lojas continuavam bombando na Barra.


(O Globo, Revista Digital, 20.9.2010)

Nenhum comentário: