21.2.10


Celulares:
O Milestone ganhou a parada

Tenho a impressão de que mais um celular foi incorporado à minha galeria de antiguidades-em-perfeito-estado (sim, eu tenho uma pequena coleção de modelos antigos que ainda funcionam perfeitamente): o iPhone 3GS. O iPhone original, que veio semi-clandestino num dos primeiros lotes a chegar ao Rio, hoje vive na sala, em companhia de uma caixa Bose, desempenhando às mil maravilhas o papel de som; o 3G foi adotado pela Bia, que está muito feliz. O 3GS, porém, que veio me fazer companhia ainda outro dia, perdeu o status de internet portátil para o Motorola Milestone.

Assim que comecei a usá-lo, como já contei a vocês, achei difícil acreditar que estava mesmo gostando mais dele do que do iPhone. Assim, depois de um tempo, voltei para o iPhone: a idéia era passar uma semana usando-o à luz da familiaridade com o Android. Nem precisei completar os sete dias. No terceiro, transferi novamente o simcard, com uma grande sensação de alívio.

Então o Milestone é o celular ideal? Ainda não. Não tem tethering (que é a capacidade de servir como modem para o computador; há um programa que pode ser adquirido para isso, mas por enquanto só aplicativos gratuitos estão à disposição dos usuários brasileiros), a câmera é ruim e o teclado podia ser melhor. Mas não dispenso mais a tela espetacular, a superioridade do Android como sistema operacional e a sensação do Milestone na mão. Ele é um tijolinho pesado mas bom de pegar, ao contrário do iPhone, que tem um design espetacular... que precisa de capa para não escorregar. Faz sentido isso? Não, não faz, mas este é o preço que se paga quando se põe a forma antes da função.

Se eu tivesse que viver com um único celular, ele seria o Milestone? Não, ainda não. O meu celular favorito continua sendo o velhíssimo Nokia N95, sobretudo pela câmera excepcional e pela possibilidade de escrever com uma mão só. Nunca passei tanto tempo com um aparelho, estou louca para aposentá-lo, mas continuo em busca do Santo Graal de bolso.

* * *


A ilustração desta página, que mostra minha gata Matilda, é uma foto de desagravo, em nome de todos os animais, contra a Samsung Mobile, que disponibilizou, num site ironicamente chamado Fun Club, dois papéis de parede tenebrosos, mostrando filhotinhos de gato assassinados. Parece que as imagens já foram tiradas do ar, mas isso não altera o fato de que tenham sido produzidas e postadas – e, ainda por cima, como algo divertido, “fun”, para agradar à garotada.

A crueldade praticada contra animais está intimamente associada à crueldade praticada contra seres humanos. Por trás de uma e de outra estão a falta de compaixão e a incapacidade de se por no lugar do outro, duas características que nunca levaram a nada de bom.

Ser civilizado, no mais amplo e positivo sentido da palavra, é respeitar a vida, em todas as suas formas.

Independentemente deste aspecto transcendental, maltratar animais é crime no Brasil. Estimular menores ao crime, que é o que de fato fazem imagens como as divulgadas pelo Fun Club, é atentar contra os princípios mais elementares da ética e da cidadania.

Não é isso que se espera de uma empresa socialmente responsável.

Nota zero para a Samsung Mobile.


(O Globo, Revista Digital, 22.1.2010)

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