Vai para os EUA?
Péssima idéia!
Pense duas vezes antes de comprar a passagem: você pode ficar sem o seu notebook, seu celular, seu iPod e o que mais os agentes federais decidirem confiscar – sem prazo para devolução.Estive em Nova York pela última vez em julho de 2001. A cidade estava linda, e fui com um amigo ao bar que existia no topo do World Trade Center para, lá de cima, ficar admirando o pôr-do-sol sobre o Hudson. Era uma viagem de trabalho curtinha, e voltei para o Rio com vontade de quero mais, já planejando, quem sabe, uma semana de férias no ano seguinte. Dois meses depois aconteceu o 11 de setembro, e o resto é História.
Mas se a História é no atacado (sem trocadilho, que isso não é caso de brincadeira), na vida real, enquanto se desenrola, é no varejo, e cada um reage aos acontecimentos à sua maneira. Num primeiro momento, tive vontade de correr para Nova York: queria estar lá e escrever sobre os acontecimentos, enfim, seguir a curiosidade e o instinto de contadora de histórias, comuns à minha profissão.
Depois, com o partido que Bush tirou do ato terrorista em si, e dos atentados que praticou contra países, pessoas e liberdades civis em nome de uma suposta “guerra contra o terrorismo”, a imensa simpatia que eu sentia por Nova York e o prazer com que viajava para lá transformaram-se, gradativamente, em irritação, antipatia, ódio mesmo.
Resultado: apesar de ter filho morando nos Estados Unidos e netos americanos, tirei o país da minha rota de viagens de lazer, e passei a evitá-lo ao máximo mesmo para viagens de trabalho. É preciso ser masoquista para enfrentar as intermináveis filas da imigração, a truculência dos “agentes da lei”, a chateação de tirar sapato, abrir mala, tirar notebook da sacola e, de modo geral, ser tratada como um lixo sem direito a pisar naquele solo que se crê tão superior.
Agora, empolgada pela campanha do Obama, e pelo que me parecem ser novos ventos soprando lá em cima, voltei a ter vontade de tirar aquelas férias planejadas ainda em 2001. Mas, evidentemente, empolgação com os Estados Unidos nunca é um bom projeto. Em vez de melhorar, a situação para o viajante piorou – se é que ainda havia o que piorar. É que -- sempre em nome da “guerra contra o terrorismo” – os federais têm toda a autorização para apreender notebooks, celulares, discos rígidos, iPods e quaisquer outros aparelhos onde se possam guardar dados, e permanecer com eles por tempo indeterminado.
Dá para imaginar isso?! Dá para imaginar o absurdo de uma medida arbitrária e estúpida como essa?! Dá para imaginar o prejuízo que pode causar, não só para os indivíduos que terão seus bens confiscados, mas para todo um universo que depende de eletrônicos e, by the way, de toda a indústria turística?! Qual é o viajante de negócios que pode se dar ao luxo de correr o risco de ver os dados confidenciais da sua empresa na mão das autoridades?! E qual é o turista que vai querer passar por este perrengue? A Argentina fica logo ali e é linda, a Europa fica logo adiante e é muito mais tranqüila. Para não falar que boa romaria faz quem em sua casa fica em paz.
Pobre Obama. O trabalho que vai ter depois de eleito para desfazer os estragos gerais causados pela gang de Bush não está no mapa.
(O Globo, Revista Digital, 4.8.2008)
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