22.8.08

Desculpem, a tonta aqui esqueceu de postar na segunda-feira!

Nokia

O futuro como matéria prima


Quando gente graúda como os caciques da Nokia se dispõe a compartilhar com nosotros, mortais comuns, as suas previsões sobre o futuro da tecnologia, qualquer um com um mínimo de curiosidade e de experiência larga tudo e corre para ouvir – entre outras coisas, porque não há nada como ter previsões de quem, na verdade, está fazendo o futuro. Assim é que, na quarta-feira passada, cerca de 20 jornalistas latino-americanos embarcaram em diversos pontos do continente, indo literalmente num pé e voltando no outro, para ter o privilégio de passar a quinta-feira no novo centro de pesquisa da empresa em Palo Alto, conversando com o CTO Bob Iannucci, o administrador dos centros de pesquisa de sistemas Henry Tirri e o anfitrião John Shen, diretor do NRC de Palo Alto.

E o que diz a bola de cristal do Vale do Silício? Essencialmente, que os próximos cinco ou dez anos vão ser extremamente interessantes, porque ao longo deles se definirá a famosa convergência de que falamos há pelo menos uma década -- e que John Shen prefere definir como colisão, já que há tantas indústrias diferentes correndo atrás deste Santo Gral.

Ele acha que estamos caminhando na direção de um aparelho que não será nem notebook nem celular, vale dizer diferente de tudo o que conhecemos, mas guardando características de um e outro.

-- A questão do formato não é tanto o que importa, muito menos o nome, -- complementa Tirri. – A grande mudança estará sobretudo na naturalidade com que usaremos esses aparelhos.

Ao contrário do que se imagina, muito do que está por vir não será definido pelas pesquisas e pela tecnologia aplicadas aos handsets topo de linha, mas sim dos humildes entry-levels destinados à população de baixa renda dos países emergentes. Um belo teclado QWERTY como o de que dispõe o E71 não adianta nada para quem não sabe escrever. Da mesma forma, de nada adiantam mapas super detalhados quando os usuários têm, como na Índia, total incompatibilidade de gênio com a cartografia.

Enfim, uma das vertentes do futuro by Nokia é que não só falaremos pelos aparelhos, como falaremos com eles, de forma muito mais simples (e sofisticada) do que o tosco reconhecimento de voz atual. O que quer que venha por aí, garante Iannucci, fará a ponte entre o mundo digital da Internet e o mundo analógico em que vivemos.

E o que quer que venha por aí dependerá muito de software e de serviços; a tal ponto que os 50 pesquisadores do laboratório de Palo Alto, criado em 2006, dedicam-se em tempo integral à descoberta de novas trilhas para a vasta comunidade conectada pelo celular. Hardware não é com eles.

A conversa foi estimulante e reveladora. Há muitas coisas que ainda quero contar para vocês, como, por exemplo, o uso dos celulares para traçar a onda do tráfego em tempo real ou o curioso navegador por imagens, breve em telefones perto de vocês.

Fica para a semana que vem, nesta mesma revista e local. Afinal, o futuro, por mais próximo que esteja, sempre pode esperar.

(O Globo, Revista Digital, 18.8.2008)

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