25.8.08

Nokia: o futuro como matéria prima II

Conforme prometi semana passada, parte do futuro ficou para hoje. Recapitulando: a convite da Nokia, fui visitar o Nokia Research Center (NRC) de Palo Alto, onde conversei com o CTO Bob Iannucci, o administrador dos centros de pesquisa de sistemas Henry Tirri e John Shen, diretor do centro de Palo Alto. Ao contrário do que costuma acontecer quando visito laboratórios de pesquisa de tecnologia móvel, não vi um único protótipo de futuro aparelho. Explica-se: a pesquisa em Palo Alto está 100% voltada para conceitos, interfaces, usabilidade. Tudo isso tem importância crescente para a Nokia que, de dois anos para cá, cada vez mais se aprofunda na área de software e de serviços.

Se não vi nenhum protótipo fui, por outro lado, apresentada a algumas idéias muito interessantes. Algumas ainda estão em forma embrionária; outras podem ser implementadas num futuro próximo, praticamente imediato. Exemplo? O uso dos celulares como indicadores de trânsito. Não apenas como receptores GPS, coisa que os N95, por exemplo, já são, mas como verdadeiros auxiliares na previsão do fluxo de veículos.

A coisa funciona mais ou menos assim: ao passar por certos pontos estratégicos, os celulares enviam um sinal, automaticamente, para um servidor ligado a um centro de controle de trânsito. O centro calcula coordenadas como direção e velocidade, e a partir daí prevê, antes de qualquer outro sistema atualmente existente, a formação de retenções. Na seqüência, os usuários são alertados para que tomem outro caminho. Trata-se, em suma, de uma versão tecnológica da inteligência coletiva dos enxames e dos formigueiros servindo ao indivíduo.

Claro que, em princípio, poderiam existir sérias questões de privacidade envolvidas num aplicativo assim, mas este foi um ponto ao qual os pesquisadores prestaram particular atenção. Os dados são criptografados, não são retidos por nenhum servidor e é virtualmente impossível identificar o percurso de um determinado celular. O mais importante, porém, é que, a despeito desses detalhes, só participa quem quiser.

Há poucos meses, a Nokia fez um teste com centenas de voluntários de Berkeley, para o qual convidou toda a espécie de autoridades de trânsito, obviamente ligadas aos seus centros habituais de informação. Pois os celulares soltos na estrada deram um verdadeiro banho nos outros sistemas. De modo que, para o outono, já está planejado um novo teste, com milhares de carros, que vai durar alguns meses. O aplicativo é agnóstico em termos de plataforma, ou seja, poderá ser adotado por qualquer empresa, em qualquer aparelho dotado de GPS.

* * *

A Nokia fabrica, atualmente, 15 celulares por segundo. É muito celular. E é, também, um problema ecológico de todo o tamanho. O que a empresa está fazendo no sentido de diminuir o impacto da sua produção sobre o meio ambiente?

-- Estamos tentando tornar os celulares cada vez mais biodegradáveis, -- diz Iannucci. – Em outras palavras, estamos usando cada vez mais material biodegradável ou reciclável nas casacas, e tornando o desmonte mais simples e rápido.

Em termos de bateria, a idéia não é aumentar a capacidade energética, mas, ao contrário, reduzir o consumo dos aparelhos. Faz sentido.


(O Globo, Revista Digital, 25.8.2008)

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