Acontece que, quando uma editora como a Planeta faz um acordo esquisito para retirar do mercado uma obra porque "o contexto é desfavorável" -- e, ainda por cima , entrega os 11 mil exemplares restantes ao biografado em questão, isso dá o que pensar.
Há algo de podre no reino da Dinamarca.
Talvez por estar justamente lá, em Odense, Paulo Coelho percebeu isso mais rápido do que os intelequituais nativos e do que os seus ilustres colegas de Academia, sacou do teclado primeiro e escreveu um retumbante artigo na "Folha de São Paulo" de ante-ontem.
Mandou muito bem o Mago, chamando às falas Roberto Carlos, o autor Paulo Sérgio Araújo (que, estranhamente, comprometeu-se a não falar sobre o assunto) e, last but not least, a sua própria editora, a Planeta:
"Não adianta o meu editor declarar que fez o acordo "porque o contexto era desfavorável". Ele precisa vir a público explicar qual é esse contexto -- ou seja, se estamos falando de calúnia. Neste caso, tem meu apoio integral, pois calúnia é sinônimo de infâmia. Mas, caso contrário, está colaborando para que comece a se criar um sério precedente -- a volta da censura."Está coberto de razão em tudo o que disse -- e está de parabéns. A íntegra do artigo está aqui; pesquei da Folha onde é só para assinantes.
Xexéo, que já leu o livro, também escreveu sobre o caso. Descreve a biografia como obra de fã, bem pesquisada e interessante, mas sem uma única novidade para leitores assíduos de fofocas sobre celebridades.
Enquanto isso, meu amigo Paulo Polzonoff vive a angústia de ver os três mil exemplares do seu perfil de Manuel Bandeira presos na Relume Dumará porque um herdeiro resolveu criar caso; e Lucas Figueiredo, autor de "Morcegos Negros", livro-reportagem sobre histórias muito mal contadas do governo Collor, está passando por um aperto e tanto. Foi condenado junto com a Record, sua editora, pela preclara justiça de alagoas, a pagar uma fortuna a um juiz ... (hm, de onde eu vou tirar R$ 200 mil?!) ... digno, honrado, trabalhador, bem-intencionado e, claro, bonito que só.
Que país, caramba, que país.
Update: Diz a Bia, que está cobrindo esses desastres:
"O juiz que proibiu a venda dos livros, no final da audiência, deu um CD de autoria própria para o Rei e todos que estavam na sala, chamado "Pra te ver voar". E disse pro Roberto: "Roberto, este é o meu primeiro CD. Escute e me diga o que achou!". E depois disso foi uma tietagem só. Fotos e mais fotos com o Rei, enquanto Paulo Sérgio Araújo estava aos prantos por causa de seus 15 anos de pesquisa jogados no ralo. BTW: estou com uma cópia do CD do juiz que também é de fazer chorar..."
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