A Revista do Globo de amanhã, que eu trouxe para casa ontem, traz, como matéria de capa, uma ótima reportagem do Renato Lemos sobre a Brasileirinhas, uma produtora de filmes pornô que faz sucesso por usar "celebridades" em vez dos "atores" anônimos de hábito.
Lá estão o indefectível Alexandre Frota, Gretchen, Regininha Poltergeist, Rita Cadillac, por aí vai. O dinheiro, que nem é tanto, tem um papel importante na história; espantosamente, porém, boa parte dos entrevistados está no ramo por causa da fama.
Fiquei pensando muito nisso.
Fama? Mas que fama, de ator pornô?!
Isso lá é algo a que se aspire?!
Sou antiga, do tempo em que se alguém fosse ator pornô escondia de todo mundo, ou pelo menos daquela parte do mundo que não assiste filme pornô.
Hoje o que importa não é mais a atividade, mas a fama em si. Tanto faz por quê se é famoso, desde que se o seja (gostaram da construção?). Isso já foi dito e redito à exaustão, suponho que existam milhares de teses a respeito do assunto, mas não consigo deixar de me surpreender cada vez que esbarro com um desses sintomas agudos da patologia dos tempos.
Saindo até do âmbito dos atores pornô, fico perplexa com a falta de pudor com que as pessoas se expõem, com a necessidade que têm de serem vistas, ouvidas, entrevistadas, fotografadas, reconhecidas.
Antigamente as crianças queriam ser bombeiros, bailarinas, médicos, astronautas, trapezistas.
Hoje querem ser celebridades.
Não sei como nem por quê chegamos a esse ponto, mas imagino que a super-população do mundo tenha algo a ver com isso. No mundo menor, na cidade menor, todos eram conhecidos de todos; todos conheciam as virtudes e defeitos uns dos outros, o que, imagino, assegurava a individualidade de cada um.
Continuamos indivíduos, únicos todos, exatamente como antes; mas forçosamente prestamos menos atenção uns nos outros. Não vivemos mais num universo de reconhecimento possível.
Ou então é uma outra coisa qualquer radicalmente diferente.
Ou...
Ah, sei lá.
Estava só pensando em voz alta.
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