11.10.06

Perguntar não ofende

Geraldo Alaécio Galo, leitor do "Estadão", mandou a seguinte pergunta para a seção de cartas do seu jornal:

"Já que o país ficou claramente dividido entre Lula e Alckmin, cabe uma pergunta: será que a parte que votou em peso no Lula aceitaria ser governada por ele sem contar com os impostos arrecadados da parte que votou em peso no Alckmin?"

* * *

Por que postei a pergunta (respondendo a vários comentários, comentando outros, etc.):

-- Achei que daria panos para as mangas; pelo visto, achei certo... ;-)

-- A pergunta é altamente retórica. Cada um interpreta como quer ou como seus preconceitos permitem. Achar que os pobres não colaboram para o desenvolvimento do país é um preconceito, assim como achar que a classe média é alienada ou que a elite é, necessariamente, um grupo de cidadãos que não vale nada.

-- A pergunta é muito boa. Lulla foi eleito sobretudo graças aos votos dos miseráveis, das pessoas para quem o assistencialismo é fundamental. Não sou contra assistencialismo, em princípio. Num país com os índices de miséria do Brasil e com empregos disponíveis apenas para pessoas com alguma qualificação (Executivo e Legislativo à parte, naturalmente) é preciso garantir a sobrevivência de quem não teve a sorte de estudar (ou se eleger para a Presidência da República). Sou, porém, frontalmente contra o uso político que o PT, os Garotinhos e demais políticos clientelistas fazem deste assistencialismo, que é uma obrigação do Estado, paga com o dinheiro de todos, e não uma bondade de A, B ou C. Também sou contra o assistencialismo sem qualquer contrapartida. Pelo Bolsa Escola as famílias eram obrigadas a demonstrar que os filhos estavam freqüentando a escola; pelo Bolsa Família não só crianças estão saindo da escola como muita gente está pura e simplesmente deixando de trabalhar, como atestam colegas meus que vêm cobrindo a campanha presidencial e correndo o país. Para que ir para a roça se o governo paga um salário de qualquer jeito no fim do mês? Bolsa Família sem uma ação social paralela é Bolsa Esmola -- e não leva a lugar nenhum. Na verdade, leva à perpetuação deste estado de coisas e à criação de mais uma geração de dependentes de Bolsa Esmola. É isso que a gente quer pro país?!

-- Tirem-se os escorchantes impostos pagos pelo setor produtivo, pela classe média e pelos assalariados/achacados, entre os quais me incluo, e seca a fonte do Bolsa Esmola. A meu ver, aí (e não na dicotomia ricos x pobres) está o cerne da pergunta: o grosso dos eleitores de Lulla votaria nelle sem este auxílio descaradamente usado pela sua máquina eleitoreira?

-- Finalmente, É CLARO que nem todos os eleitores de Lulla estão nos grotões, como nem todos os do Alckmin bebem Romanée-Conti às refeições. Mas isso, ça va sans dire, nem preciso dizer; todos aqui têm inteligência suficiente para saber que generalizações são perigosas. A começar por essa.

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