9.4.06



Arghhhhhhhhhh!

Que eu saiba, não há lugar no mundo onde os bancos estejam ganhando tanto e tão escandalosamente às custas de todos mas, sobretudo, do setor produtivo. O que me leva a admirar que alguém que tem algum dinheiro ainda tenha a força de vontade de enfrentar a burocracia, arregaçar as mangas e pôr mãos à obra -- no que quer que seja.

Para quê abrir fábrica ou loja, comprar terra e cultivar, contratar gente, ter dor de cabeça com a burocracia e o fisco se, no final das contas, o mesmo dinheiro renderia muito mais no banco?

Ser empreendedor e sonhar em melhorar o país é um negócio cada vez pior. Aliás, trabalhar com o que quer que seja está sendo um péssimo negócio.

Abro um parênteses: Agora mesmo o Imposto de Renda me tascou uma multa de quase dez mil reais sobre supostos ganhos de direitos autorais que eu não teria declarado em 2002.

É mentira -- até porque, sem livros novos na praça, eu não ganhei nada que pudesse sequer remotamente chegar a gerar uma multa dessas. Quando eu ganho R$ 200 pratas por semestre comemoro, de verdade. Depois, porque não sou eu quem faço o meu imposto, que não sou besta de correr este risco, e sim uma das advogadas mais cuidadosas que conheço.

A mesma coisa tem acontecido com outras pessoas que, por acaso, não acham o atual governo a maravilha prometida por Duda Mendonça na televisão, e não têm papas na língua em dizer que estão fartos da desgraça que se abateu sobre o país na figura de Lulla da Silva & Quadrilha Ilimitada.

O que vai acontecer? Minha advogada vai levar uns meses provando que focinho de porco não é tomada, eu vou perder sossego e dinheiro e um pequeno burocrata terá se vingado em nome do seu Grande LLíder: é para isso, afinal, que se aparelha o Estado. Fecha parênteses.

Enquanto isso, escreve o Emerson, em resposta ao Truda:
"Truda, o leite pode chegar a dez reais aí, onde quer que aí seja. Todavia, os produtores seguem recebendo entre quarenta e cinquenta e cinco centavos por litro. Eu tenho sorte: recebi cinquenta centavos por litro. Como tenho dois empregados -- que compram dvds, compram mantimentos, compram um carrinho véio e uma moto idem, injetam, enfim, seus parcos recursos no mercado -- o que recebo só cobre o custo de um. Tem, ainda, a contabilidade pra pagar e os encargos sociais -- no momento, atrasados dois meses, indo pro terceiro.

Resultado? Estou começando a achar que minha mulher está certa e o melhor negócio é vender o sítio e as vacas, os rapazes que procurem emprego onde melhor entenderem, e comprar uma casa na praia. Instalo lá uma antena Sky e vou criar gordura na barriga e na bunda, sentado no sofá, vendo tevê o dia inteiro. Produzir? Os companheiros assentados que produzam. Eu quero mais é rosetar.

Esse negócio de ser produtor rural nesse país é pra quem tem esterco na cabeça ao invés do chão.

E a classe média urbana, inteligente, bem informada, endinheirada, pode muito bem comprar leite argentino e queijos franceses."

"Esse governo calhorda e canalha está fazendo propaganda de uma suposta ajuda aos produtores rurais. Puro marketing.

No que respeita à agricultura e à pecuária, nunca houve um governo nesse imenso bananal que não fosse calhorda, canalha e burro, acima de tudo burro, muito burro. O milagre é que essa joça ainda produza tudo que produz e que o amaldiçoado agronegócio ainda pague todas -- TODAS -- as contas do bananal e seus micos retardados que só sabem comer banana.

Ah, sim, parte do meu humor deve-se à fortuna que recebo pelo que produzo. Outra parte deve-se ao fato do pagamento pelo meu produto estar atrasado. Bem atrasado.

Senhoras e Senhores, o campo está de portas abertas à espera de empreendedores e de investidores. Aproveitem.

Good day and good luck."
Desculpem atrapalhar o domingo, mas tem hora que não dá para segurar o nojo.

E agora vou pôr compressa quente na pata e recolocar a porcaria daquela tala, que também está contribuindo muito para tirar o meu bom humor.

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