6.9.02



Stallman in Rio

Djalma Valois, Mario Jorge, Elis e eu fomos jantar com Richard Stallman no Porcão. Adoro o Stallman, que por baixo da (necessária) intransigência política e do ar geek, é uma figura bem mais doce do que se pensa. Conforme o Djalma já havia me dito, ele cortou o cabelo e aparou a barba -- mas não tanto que se note à primeira vista!

RMS continua tendo os piores modos imagináveis à mesa: come com as mãos, cutuca os dentes com a ponta das unhas, mastiga ruidosamente... faz, em suma, todas aquelas coisas que, se fosse uma criança pequena, a gente punha de castigo. Como é o Stallman, a gente releva. O que este homem têm feito pela nossa liberdade é incomensurável e, por mim, ele pode até comer embaixo da mesa que eu não me importo.

Conversamos sobre uma série de coisas. Como a maioria dos americanos politicamente atentos que conheço, ele está preocupadíssimo com o sistemático cerceamento das liberdades individuais nos Estados Unidos, em nome de uma suposta "segurança". Acha que o governo sabia dos atentados -- concordo com ele; o governo talvez não tivesse noção exata do que aconteceria, mas certamente sabia que algo estava sendo tramado -- e que está usando a histeria coletiva para impor uma legislação que dará ao estado poderes totais sobre os cidadãos.

-- O que está acontecendo lá é assustador, e o pior é que a maioria das pessoas não está nem aí.

Nosso principal assunto foi, claro, o software livre. Perguntei a ele se acha que a Microsoft vem ajudando a causa direitinho e ele respondeu que indubitavelmente sim -- cada vez mais gente se junta ao movimento por puro ódio ao monopólio.

-- Mas, veja, o ódio à MS não deve ser a nossa principal motivação. Quando comecei a defender a idéia do software livre, em 1984, a MS não tinha a menor importância: a ATT é que era a empresa que todos odiávamos e temíamos. O importante é termos consciência de que software é algo importante demais para pertencer a este ou àquele grupo, esta ou aquela empresa.

Depois, o papo descambou para o lado pessoal. Falamos sobre sonhos (o dele é, básica e modestamente, salvar o mundo), música (adora Mestre Ambrósio) e relações a dois. A namorada não quer mais saber dele. Em compensação, ele estava querendo saber tudo sobre a Elis...

Foi uma noite muito divertida.

Ah, sim: uma historinha engraçada que me esqueci de contar, e que pesquei de um comentário postado aqui pela Enigmatic Mermaid, que fez a tradução simultânea da sua palestra em São Paulo. Há um momento já clássico nas apresentações do RMS em que ele põe uma bata e um disco de vinil na cabeça, e se transforma em Santo IGNUácio. Vai daí, alguém sempre pergunta:

-- Por favor, Santo IGNUácio, o senhor poderia me dizer se usar software da M$ é um pecado mortal?

-- Não, não, meu filho... usar software da M$ já é a penitência!

Ah, sim 2: O que a vida informata tem andado agitada aqui no Rio não é brincadeira... Hoje Stallman, ontem macmaníacos... ufa! Aliás, meninos, vocês ficaram todos muito bonitinhos na foto. Vejam no Info etc. da segunda que vem...

Ah, sim 3: Stallman deu um upgrade na sua técnica inigualável de usar três pauzinhos para comer; agora consegue usar quatro! O Djalma tem a foto, quando ele postar eu linko ou trago pra cá.

Ah, sim 4: A Comdex deste ano vai ter um painel imperdível: Stallman e John Perry Barlow vão debater com Hillary Rosen e mais uma pessoa do lado de cujo nome Stallman não lembra. Vou fazer o que puder para estar lá: Barlow e Stallman juntos?! WOW.

Aliás, conversando sobre isso, fiz uma descoberta chocante: a Comdex não paga nada aos palestrantes! Tá, eu nunca imaginei mesmo que houvesse algum cachê para os billgates que fazem os keynotes; pelo contrário, sempre me perguntei se não haveria um dinheiro rolando no outro sentido, isto é, das empresas para a Comdex, dada a visibilidade da abertura. Mas juro que pensei que as outras palestras fossem remuneradas.