13.9.02



O ateu e o urso

Recebi esta historinha do Christiano Rangel, que a recebeu do Fernando Antonio Mendes de Souza:

Um ateu estava passeando em um bosque, admirando o que, imaginava, a evolução havia criado:

-- Que belos animais! Que árvores majestosas! Que rios caudalosos!

Caminhava absorto nesses pensamentos, quando ouviu um ruído vindo de uns arbustos. Virou-se e se deparou com um imenso urso-pardo vindo em sua direção. Disparou a correr o mais rápido que podia, mas era inútil: o urso se aproximava mais e mais. Era tanto o seu medo que lágrimas vieram-lhe aos olhos, turvando-lhe a visão. O coração batia freneticamente; tentou imprimir maior velocidade a seus passos, mas cego pelo choro tropeçou e caiu, desamparado.

Rolou pelo chão, tentou levantar-se, mas logo o urso estava em cima dele, prestes a devorá-lo. Neste exato momento, o ateu exclamou:

-- Oh, meu Deus...!

O tempo parou; o urso ficou sem reação; o bosque mergulhou em profundo silêncio e até o rio parou de correr. Enquanto uma luz clara brilhava iluminando tudo misteriosamente, ouviu-se uma voz tronitruante, vinda do céu:

-- Tu negastes a minha existência durante todos esses anos, ensinastes aos outros que eu não existia e reduzistes a criação a um acidente cósmico. Esperas agora que eu te ajude a sair do apuro? Devo eu esperar que tenhas fé em mim?

O ateu olhou diretamente para a luz e respondeu:

-- É verdade, seria hipocrisia da minha parte pedir que, de repente, passasses a me tratar como cristão. Mas talvez, quem sabe? pudesses tornar o urso cristão...

-- Muito bem. Se é isso o que me pedes...

A luz foi embora, o rio voltou a correr, os sons da floresta voltaram e, então, o urso recolheu as patas. Fez uma pausa, abaixou a cabeça e disse, contrito:

-- Senhor, agradeço profundamente por este alimento que agora vou comer.

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