A Monca chamou minha atenção para um excelente artigo sobre a situação do Oriente Médio; uma amiga mandou por email este link (que sugiro ouvir sem som por causa de um ridículo Twinkle Twinkle Little Star de fundo); leitores tem me mandado recortes e opiniões diversas.
A questão é chegamos a um ponto em que nada que se diga ou se mostre em favor de Israel terá qualquer efeito. Para além da presente guerra propriamente dita, há uma guerra de mídia que, há tempos, foi perdida pelo país -- cuja capacidade de fazer propaganda é inversamente proporcional à sua competência militar.
Além da contra-producente amizade com os Estados Unidos, os mortos e feridos israelenses não são filmados nem fotografados, salvo ocasionalmente pela imprensa estrangeira, nem exibidos em procissões gigantescas; são mortos que se contam em números, mas o que é um número diante da foto de uma criança morta? Ao longo dos últimos anos, quando foguetes do Hamas eram lançados sobre o sul de Israel, as crianças iam para os abrigos subterrâneos, e não para o meio da rua, providencialmente armadas com estilingues, tão eficazes para boas fotos.
Criou-se assim a singular percepção de um povo intrinsecamente mau e sanguinário, que ataca escolas por pura maldade, contra um povo intrinsecamente bom e coitado, que só explode civis por falta de escolha.
Por ser um país desenvolvido cercado de vizinhos em diferentes estágios de "civilização", Israel paga, guardadas as devidas proporções, o preço que a classe média paga, aqui, em relação aos tantos movimentos de "descamisados", do MST aos arrastões. Os verdadeiros culpados por eventuais desigualdades, lá como cá, não são mencionados nem en passant -- e, ainda que o fossem, continuariam onde sempre estiveram. Nem aí.
Ao mesmo tempo, os líderes mundiais que hoje se declaram contra a "reação desproporcional" de Israel pouco estão se lixando para o sofrimento das vítimas. Se a sua preocupação fosse de fato humanitária, o Sudão, por exemplo, não sairia das manchetes; mas as vítimas do Sudão não dão ibope. Quando a China entrou de sola no Tibete, ainda outro dia, ouviram-se, no máximo, ligeiros resmungos protocolares -- e, ainda assim, só porque o Dalai Lama é um véinho carismático, com bom transito em Hollywood.
Isso sem falar no antissemitismo que, invariavelmente, aproveita para dar as caras quando tem a ótima desculpa de uma guerra para acobertá-lo. "Israelense" e "judeu" não são sinônimos; há incontáveis cidadãos israelenses que não são judeus, como há milhões de judeus que não são israelenses. Ainda assim, os dois termos se equivalem para efeitos de noticiário, de artigos, de posts enfurecidos em blogs. Seria até compreensível se a mesma equivalência servisse para "palestinos" e "muçulmanos", mas esta é sempre cuidadosamente evitada.
Às vezes, o uso (ou a omissão) das palavras revela muito mais do que o seu significado.
Apoiar os palestinos, o Hamas, o Hezbollah e os países árabes de modo geral é chique, bacana e garantia de popularidade. Israel não terá o apoio da intelligentzia -- que em geral é de uma extrema covardia e ignorantzia -- nem se for completamente aniquilado, como quer o Hamas. Aí ainda vamos ouvir o "fizeram por onde" que tanto se disse em relação ao ataque ao WTC; as Nações Unidas vão fazer tsk, tsk, o Papa vai condenar vagamente o exagero -- e estaremos conversados.
Enquanto isso, Chavez, Morales e Lula continuarão visitando alegremente os países árabes e posando sorridentes ao lado de seus líderes, assim como posavam ao lado de Fidel quando este era vivo.
Mas a verdade é que eu nem devia estar falando sobre isso.
A minha opinião é descartada de saída em qualquer discussão a respeito do Oriente Médio: como venho de uma família dizimada pelo Holocausto, sou suspeita, e portanto não posso me manifestar. Cansei de ouvir isso até de pessoas supostamente inteligentes -- e, de cansada, não discuto mais. Se o que você diz não vale nada a priori, o mais sensato é seguir os conselhos do professor Higgins, e falar apenas sobre o tempo e a saúde.
Como é, tem feito muito calor por aí?
5 comentários:
"e não para o meio da rua, providencialmente armadas com estilingues, tão eficazes para boas fotos."
Sim, exatamente. Os palestinos que aparecem nas matérias mortos, suas crianças dilaceradas vítimas de armas proibidas pela convenção de Genebra são um bando de atores.
Inacreditável como se criam espantalhos lógicos para tentar justificar o injustificável: a guerra genocida israelense. E com uma cara de pau incrível.
Gostaria que a sra. falasse um pouco sobre a acusação de anti-semita e racista que paira sobre qualquer um que ouse falar que Israel não está fazendo maravilhas ao matar palestinos ao seu bel-prazer.
"Israelense" e "judeu" não são sinônimos; há incontáveis cidadãos israelenses que não são judeus, como há milhões de judeus que não são israelenses."
-- Sabemos disso.
"srael paga, guardadas as devidas proporções, o preço que a classe média paga, aqui, em relação aos tantos movimentos de "descamisados", do MST aos arrastões"
--- Elitismo ridículo e afetado que nada tem a ver com a questão. Inventando um espantalho de novo.
" Ainda assim, os dois termos se equivalem para efeitos de noticiário, de artigos, de posts enfurecidos em blogs."
-- Nunca vi essa 'confusão' em nenhum jornal. Sempre se fala em israelenses, e não em judeus quando se refere a Israel.
" Seria até compreensível se a mesma equivalência servisse para "palestinos" e "muçulmanos", mas esta é sempre cuidadosamente evitada."
---- Evitada? A palavra "muçulmano" tem um significado muito mais negativo do que "judeu". A imagem que vem à mente da maioria das pessoas é a de um terrorista, imagem esta elaborada pela força da mídia.
Enfim, o artigo é um repositório de falácias do espantalho, preconceitos descarados e explícitos, cara de pau e etnocentrismo no mais alto grau.
Os mortos israelenses quando existem, contam-se no máximo às dezenas. Os mortos palestinos, SEMPRE aos milhares.
Mas deve ser porque eles correm para o meio da rua com estilingues -para serem mortos.
Gostaria que a sra. falasse um pouco sobre a acusação de anti-semita e racista que paira sobre qualquer um que ouse falar que Israel não está fazendo maravilhas ao matar palestinos ao seu bel-prazer.
"Israelense" e "judeu" não são sinônimos; há incontáveis cidadãos israelenses que não são judeus, como há milhões de judeus que não são israelenses."
-- Sabemos disso.
"srael paga, guardadas as devidas proporções, o preço que a classe média paga, aqui, em relação aos tantos movimentos de "descamisados", do MST aos arrastões"
--- Elitismo ridículo e afetado que nada tem a ver com a questão. Inventando um espantalho de novo.
" Ainda assim, os dois termos se equivalem para efeitos de noticiário, de artigos, de posts enfurecidos em blogs."
-- Nunca vi essa 'confusão' em nenhum jornal. Sempre se fala em israelenses, e não em judeus quando se refere a Israel.
" Seria até compreensível se a mesma equivalência servisse para "palestinos" e "muçulmanos", mas esta é sempre cuidadosamente evitada."
---- Evitada? A palavra "muçulmano" tem um significado muito mais negativo do que "judeu". A imagem que vem à mente da maioria das pessoas é a de um terrorista, imagem esta elaborada pela força da mídia.
Enfim, o artigo é um repositório de falácias do espantalho, preconceitos descarados e explícitos, cara de pau e etnocentrismo no mais alto grau.
Os mortos israelenses quando existem, contam-se no máximo às dezenas. Os mortos palestinos, SEMPRE aos milhares.
Mas deve ser porque eles correm para o meio da rua com estilingues -para serem mortos.
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