Cuidado! Listas à deriva no Submarino
Adoro listas: de casamentos, de chá-de-panela, de aniversário, de desejos em geral. Não há nada mais prático no universo das gentilezas humanas. Quando elas se juntaram ao comércio eletrônico, achei que tínhamos, enfim, chegado a uma espécie de paraíso: quem compra nem precisa sair de frente do computador, e faz a alegria de quem está quietinho em casa, e não precisará sair para trocar o que não queria.Há algumas semanas, às vésperas do meu aniversário, fiz uma lista no Submarino. Pensava com isso facilitar a vida dos amigos e, sobretudo, pôr em prática um hábito corriqueiro no mundo dos blogs, onde é comum encontrar listas com as necessidades intelectuais básicas dos donos da casa.
Infelizmente, foi uma péssima idéia. O Submarino simplesmente não pegou o espírito da coisa. A lista é fácil de fazer, mas falha ao não oferecer automaticamente um link para o usuário. O que ele pega na barra do browser o induz a erro, pois para que a lista possa ser vista por terceiros, deve ser tornada pública – uma informação que não consta em lugar nenhum.
Mas antes fosse esse todo o problema! Numa lista de presentes, assim que um item é comprado, seu status deve ser automaticamente modificado; se alguém compra um item e ele continua em disponibilidade, há uma chance razoável de que venha a ser comprado novamente por outro visitante.
Só que este detalhe aparentemente simples ainda não foi decodificado pelas enferrujadas engrenagens do Submarino. Se um item for ou não comprado, isso não fará a menor diferença na lista, onde ele continuará com o rótulo “Não comprado”. Assim, o que era para ser divertido para todos os envolvidos, acaba se transformando num grande constrangimento.
Ganhei “A Rainha” duas vezes, das minhas amigas Marise e Lecy. Postei uma fotinha do filme, e o DJ Leo, lá de Natal, escreveu desesperado nos comentários: “Alguém me diga que a Cora NÃO ganhou o DVD A Rainha!” Pois é: ele também escolheu “A Rainha”! Para sorte geral, a desorganização do Submarino é ainda maior do que pode supor a nossa vã filosofia... e a loja mandou o filme errado! De modo que recebi “Paris, Texas”, com um lindo bilhetinho -- sem assinatura.
Postei foto do bilhete e, ato contínuo, o Leo me escreveu, todo encabulado: “Não sei se estou mais envergonhado ou surpreso! O Submarino fez uma confusão do caramba! Não colocou o remetente; entregou o presente errado; entregou fora da data combinada; e não deu baixa em "a Rainha" quando comprei! Taquispareupa!”
Algum tempo se passou, e recebi outro email do Leo:
“Acabei de falar com o atendimento do Submarino e eles me perguntaram como poderiam recolher o DVD que foi enviado errado e entregar o certo. Eu não sabia se continuava pasmo ou se dava um puxão de orelhas daqueles. Preferi dizer:
-- Não façam nada! Se recolherem, vão piorar a situação. Apenas me dêem o email do setor que possa enviar um pedido de desculpas em letras garrafais, e deixem o resto comigo.
Imagina a cena amanhã, na sua porta:
-- Senhora Cora?
-- Pois não?
-- Somos do Submarino e viemos recolher seu DVD “Paris, Texas” e lhe entregar o terceiro "A Rainha".”
A cena não aconteceu mas, se acontecesse, pelo menos eu não ficaria sem o “Paris, Texas”: no dia seguinte, o Submarino entregou um segundo “Paris, Texas”... enviado pelo Marcus!
Pedido de desculpas, providências, essas coisas? Ora, por quem sois. Como bem resumiu a Lecy, nessa “o Submarino entrou em águas profundas e escuras.”
(O Globo, Revista Digital, 11.8.2008)
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