21.4.08

Caso Isabella

O Guilherme, num dos comentários, disse que gostaria da minha opinião sobre o caso Isabella; sei que essa deve ser uma indagação comum a muitos de vocês.

Não gosto de escrever sobre crimes, menos ainda sobre crimes contra crianças. É inútil. Quando a gente escreve e conversa sobre alguma coisa, o faz, em geral, para encontrar um sentido naquilo.

É possível compreender um crime passional, é possível compreender um assalto que resulta em morte, é possível "entender", intelectualmente, muita coisa.

O problema é que, quando a gente se vê diante do assassinato de uma criança, a gente se vê, também, diante de um assassino cujas motivações não consegue entender, nem emocional nem racionalmente. Ali está um ser humano que em princípio é igual a nós -- e, no entanto, é tão diferente, que suas motivações nos são pura e simplesmente insondáveis.

Quando esse ser humano aparece em dupla, então, fica tudo mais difícil. Como é que, entre aquelas duas pessoas, não houve sequer um lampejo de sanidade? Nem falo em horror, comiseração ou compaixão, porque não me parece que esses sejam sentimentos se apliquem ao caso.

Já li alguns artigos condenando a mídia, mas a mídia, afinal, é apenas um reflexo da sociedade que a produz e que a consome.

Para mim, o que está por trás da descomunal comoção causada por essa tragédia é a perplexidade, a absoluta incapacidade de nos pormos no lugar dos assassinos.

* * *

Uma vez, comentando a incapacidade que temos de imaginar o infinito, o Millôr fez uma analogia que, desde então, acho perfeita para tudo o que fica além da minha compreensão.

Ele disse que podemos ensinar um cachorro a pegar o jornal na porta. Se o cachorro for muito inteligente e o treinador muito bom, pode-se até fazer com que o cachorro perceba a diferença entre, digamos, O Globo e o Jornal do Brasil. Mas não há nada no mundo que possa fazer com que o cachorro consiga ler o que está no jornal.

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