3.5.07


Chega de impostos!

Até quando vamos ficar parados, feito patos de tiro ao alvo?!


Na segunda passada, terminamos todos, ou quase todos, de entregar nossas declarações de renda ao governo -- como carneiros que, a caminho do matadouro, entregassem aos açougueiros os machados com que serão abatidos. Em outros tempos, quando a carga tributária asfixiava assim a população, as pessoas pegavam em armas e demonstravam, de forma inequívoca, a sua insatisfação.

O mundo mudou daqueles bons tempos para cá; hoje, supostamente civilizados, impregnados de calmantes até a raiz dos cabelos, quando muito chiamos no botequim e escrevemos crônicas, artigos e cartas para os jornais. Mas pergunto, honesta e sinceramente: vocês acham que alguém lê jornal em Brasília, exceto para pensar em formas de cercear a liberdade de imprensa e/ou processar jornalistas?!

Pela falta de resposta ao que antigamente atendia por "clamor popular", tenho a impressão que, nos gabinetes do poder, circulam apenas revistas de celebridades e livros para colorir, de preferência em cor-de-rosa. Quanto às autoridades, tendo chegado, cada qual, ao ápice do ser humano que lhes coube, preocupam-se apenas em enriquecer rápido, obter bons cargos para a famiglia e conseguir, em tempo recorde, aposentadorias que nós, otários, não veremos nem em sonhos, ainda que trabalhando a vida inteira.

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Note-se que, nas declarações, está apenas o imposto que conseguimos distinguir como tal. Na segunda-feira mesmo, fatídico dia das contas com o fisco, publiquei no Info etc. o desabafo de um amigo que, seduzido por um notebook da HP, quase fez a besteira de comprá-lo pelos R$ 8 mil que custa no Brasil. Nos Estados Unidos, a mesmíssima máquina, com a mesmíssima configuração, sai pelo equivalente a R$ 2,5 mil. Ou seja, pagamos mais do triplo do preço porque, a cada computador comprado, o governo leva dois!

Meu amigo, camarada digno, correto, que gosta de fazer tudo nos conformes mas não é nem milionário nem trouxa, recusou-se a bancar o idiota e recorreu, obviamente, a um "esquema": lá se foi mais um cidadão do bem, empurrado para a ilegalidade por uma política corrupta e corruptora.

À tarde, um leitor me enviou um cálculo mais preciso, baseado no salário mínimo brasileiro e numa jornada de 160 horas mensais ao mínimo federal americano de US$ 5,15 por hora. Nos EUA, um trabalhador pode comprar a máquina, a preço local, com pouco mais de um mês de trabalho. Já no Brasil, o trabalhador precisa suar a camisa por mais de 20 meses -- isso se não almoçar, jantar ou pagar aluguel. Em suma: levando-se em conta o poder aquisitivo nos dois países, o computador é -- segurem-se! -- 15.36 vezes mais caro aqui.

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Se você quiser saber quanto do seu dinheiro é usado para dar ministérios inúteis a mangabeiras e companheiros que não se elegeram, para financiar o MST, para fazer reformas cosméticas super-faturadas nos aeroportos e nas estradas e, de modo geral, sair pelo ladrão (santa expressão!), vá ao utilíssimo site mantido pela Aclame (Associação da Classe Média), ONG sediada em Porto Alegre.

Lá há algumas ferramentas essenciais para o cidadão inocente. Uma é o Impostômetro, que faz a conta de quanto o brasileiro já pagou de impostos em 2007. Na última olhada que dei, o total era de R$ 302.594.983.865,57. Outra pequena maravilha é uma calculadora de imposto que impede que o contribuinte fique na ilusão de que tudo o que paga ao governo é a fatia extorquida do seu contracheque. Vão até lá e façam uma simulação dos seus ganhos e gastos: é assustador.

Somos o quarto país do mundo em arrecadação. Acho que nem eu nem vocês nos importaríamos tanto com isso se víssemos o nosso dinheiro bem empregado, se vivêssemos com segurança em cidades limpas e bem conservadas, se tivéssemos um bom transporte público, bons hospitais e escolas. Mas qual é o sentido de pagar impostos suecos vivendo num Haiti?!

Não sei vocês, mas eu, definitivamente, cansei de trabalhar para ver o meu dinheiro sendo atirado aos porcos. Cansei de trabalhar 216 dias por ano (!) para sustentar vagabundos. Cansei, caramba!,de pagar por serviços que não recebo. Tributaristas que lêem este desabafo: como faz uma pessoa física, assalariada, para depositar em juízo o dinheiro que lhe tomam em nome de falsas promessas de campanha?!

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Más notícias na Lagoa: estão caçando os franguinhos d’água do Parque dos Patins. As avezinhas (como a da foto) chegaram há alguns anos, atraídas pelo manguezal. Gostaram da área, tiveram filhotes que vingaram e que, por sua vez, se reproduziram, para a alegria dos freqüentadores. Pois agora, um bando de desocupados se diverte em assassiná-las.

Quem também corre risco é um grupo de árvores lindas e frondosas da ciclovia, na entrada das obras do estádio de remo. Uma seringueira, protegida por lei, será poupada; mas o que será das outras, que vivem lá há décadas?!


(O Globo, Segundo Caderno, 3.5.2007)

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