Relembrando Carlos Pena
O nosso Raimundo Vasto Mundo, que é uma delicadeza de pessoa, anda notando muitos azuis e sandálias nas minhas fotos -- e lembrou-se deste lindo soneto de Carlos Pena Filho, jornalista e extraordinário poeta pernambucano, prematura e tragicamente morto num acidente automobilístico:
Soneto do Desmantelo Azul
Então pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
Depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas
Para extinguir de nós o azul ausente
e aprisionar o azul nas coisas gratas
Enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas
E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço
E perdidos no azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul: azul
Obrigada, querido amigo: você não tinha como saber, mas acertou em cheio -- eu gosto demais dos poemas do Carlos Pena.
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