11.9.05



Notas de viagem

Hoje arriscamos pegar o carro. Fomos ao aeroporto mudar as passagens, para ficar mais dois dias -- e ficamos em estado de graca quando descobrimos que o prato do dia no fast food era galinha com páprica, nosso grande favorito.

Estava ótimo.

Aqui, em cada esquina, pode-se comer galinha com páprica. É sempre ótimo -- embora nunca seja tão bom quanto o que a Mamãe faz.

Na volta paramos perto do Parlamento, passeamos pelas redondezas e fomos ao número 10 da Alkotmany Utca, onde ficava a livraria do meu avô, e onde meu Pai passou toda a infância. O edifício, construído na virada do século passado, tem um pátio interno, para onde dão as portas e algumas janelas dos apartamentos, e lindas grandes de ferro.

Para entrar, usei o mesmo golpe de vinte e tantos anos: assim que alguém abriu a porta para sair, aproveitei o embalo e entrei, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

E é.

Bia e eu exploramos todos os cantinhos, tiramos várias fotos e ficamos, nem preciso dizer, muito emocionadas, imaginando o cotidiano do meu Pai, dos meus avós e dos meus tios subindo e descendo as escadas, entre a livraria e o apartamento.

Pensamos nisso, e pensamos também em como deve ter sido terrível para todos abandonarem tudo de um momento para o outro, indo cada qual para um canto, sem saber se algum dia iriam se ver novamente.

Meu Pai nunca mais viu seus avós, que moravam ali perto, seu Pai e seus dois irmãos; e só reviu o velho edifício quase um quarto de século depois, ao voltar a Europa pela primeira vez depois da guerra.

Para mim, não há Memorial do Holocausto que se compare a este prédio aparentemente comum, onde um dia viveram um casal de livreiros e os seus seis filhos.

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