9.9.05



Impressões de viagem

Alugar o carro e enfrentar os quase 900 quilometros que separam Berlim de Budapeste foi uma grande idéia. Há formas mais rápidas e cômodas de se chegar a um destino, mas nenhuma nos daria a mesma sensacão de estar entrando Europa adentro.

Para mim, mesmo em Berlim, tudo é impressionantemente familiar, da comida á linguagem corporal das pessoas.

Tudo é muito como lá em casa, gostos, jeitos, hábitos.

* * *

Um dos hábitos europeus que mais me reconforta, por falar nisso, é o cuidado com o desperdício, evitado na medida do possível. Em quase duas semanas de viagem não vi um só prato de papel; talheres de plástico só mesmo as pazinhas de sorvete.

Na Alemanha, campeã de hábitos ecológicos saudáveis, a maioria das bebidas ainda vem em cascos de vidro. E mesmo nos parques onde bebidas são servidas em copos de plástico, o plástico é como o do tupperware, lavável e reutilizavel. Paga-se até um depósito.

O reverso disso -- o desperdício desenfreado e absurdamente poluidor -- é das coisas que mais me perturba quando vou aos Estados Unidos. Não há planeta que aguente tanto lixo, nem sensibilidade que não se choque com tanta riqueza sendo posta fora quando há tamanha necessidade no mundo.

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Outras coisas boas que observamos por aqui:

  • Não há uma farmácia em cada esquina;

  • Também não há uma loja de comida a cada dois passos que se dê, a menos que se esteja numa área turística de barzinhos, ou coisa assim;

  • As porcões de comida e bebida têm o tamanho da fome ou da sede de um bípede normal. Não vi baldes de pipoca, sorvetes em dez camadas e copos monstruosos de refrigerante. Já canecos de cerveja... mas isso, garantem os especialistas, é outra coisa.

    * * *

    Fizemos um rápido tour por Praga.

    O guia conseguiu transformar uma história riquíssima e fascinante em algo tão atraente e dinâmico quanto um discurso do Suplicy.

    -- O rei Venceslau foi assassinado pelo seu irmão Boroslau em 935 e está enterrado na bela igreja que se vê do lado direito, parcialmente demolida durante a guerra...

    935!!! Assassinado brutalmente pelo próprio irmão!!! E tudo o que o raio do guia faz é dizer isso só assim, como um daqueles meninos de Olinda?!

    Mil anos de história não mereciam ser tratados assim, não mesmo.

    * * *

    Despreparadas para a viagem de carro, nos esquecemos de algo fundamental: CDs. No meio do caminho, a beira de um ataque de nervos com o repertório incompreensível das rádios tchecas e eslovenas, conseguimos comprar um CD num posto de gasolina.

    É uma ótima coletânea de músicas americanas de verão.

    Só que, quando chegamos a Budapeste, já estávamos ouvindo California Dreamin' pela décima vez; e Sunny Afternoon não me sai da cabeca há 48 horas.
    Help me, help me, help me sail away
    Or give me two good reasons why I oughta stay
    'Cause I love to live so pleasantly
    Live this life of luxury
    Lazin' on a sunny afternoon
    In the summertime

    Amanhã vamos a cata de discos virgens para que eu possa queimar um pouco do repertório do notebook para o caminho de volta.

    * * *

    Meu húngaro, milagre dos milagres, ainda funciona! Mas é esquisito. Em geral, quando a gente chega numa cidade estrangeira, o problema não é fazer as perguntas, mas entender as respostas; pois o meu caso aqui é o contrario: me esqueci de como se fazem as perguntas, mas entendo as respostas numa boa.

    Ainda assim consegui comprar um simcard húngaro e configurar os dois telefoninos.

    * * *

    Passamos por uma lojinha de flores, e a Bia se atirou nos bracos da proprietária, uma amiga dela de Minas chamada Neide.

    E eu pensando que isso só acontecia no Rio...
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