Barraco geral
Estou assistindo na RAI a um daqueles programas que reúnem meia dúzia de pessoas no estúdio para a discussão de um tema qualquer. Ora, sendo a RAI italiana, é claro que esses programas descambam, invariavelmente, em bate-bocas homéricos.A discussão de hoje é simplesmente inacreditável.
Uma escola primária fez uma substituição politicamente correta na tradicional apresentação de fim de ano das crianças: sai presépio, entra Chapeuzinho Vermelho.
A idéia é que a apresentação do presépio poderia ser "ofensiva" para alunos de origem islâmica, filhos de imigrantes.
É difícil saber o que pensam os convidados, porque todos falam, exaltadíssimos, ao mesmo tempo. Estão no ar o vice-prefeito de Treviso, típico representante da Lega Nord, previsivelmente reacionário e xenófobo; o arcebispo de Ravenna (que poderia fazer carreira como locutor esportivo); um religioso islâmico; jornalistas; o ministro das funções públicas (?); professores.
Seria cômico se não fosse sério.
Sou contra as religiões organizadas, que há milênios servem de desculpa para que as pessoas se matem umas às outras; mas num país majoritariamente católico como a Itália, o presépio é uma tradição cultural tão forte que, a rigor, transcende a religião.
Se numa escola há crianças muçulmanas que se ofendem com ele, a solução é simples: basta não obrigá-las a tomar parte na encenação. Mas cancelar a encenação, de resto tão bonita e pacífica, com seus reis exóticos e seus animais solidários, é... patético, caramba!
Qual será o próximo passo dessa imbecilidade coletiva bem intencionada? Cobrir as pinturas religiosas das igrejas? Expurgar dos museus os quadros de temática católica?
A tolerância religiosa não se faz através da eliminação de todos os vestígios de religiosidade, mas sim através da aceitação das diferenças e da pluralidade das manifestações.
Em suma: não é questão de subtração, mas de soma.
Será que é tão difícil perceber isso?!
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