15.5.11

Considerações sobre o Xoom


Comparativos de hardware são muito úteis na escolha de um produto mas, em última instância, o que ganha (ou não) o coração do usuário é a adequação do produto ao uso que se pretende fazer dele. Relembrando uma parte importante da crônica passada, o iPad foi feito para ser usado na vertical, ao passo que o Xoom foi claramente pensado na horizontal. Essa não é uma diferença insuperável (os dois têm acelerômetros que permitem aos apps giraraem de acordo com a posição do tablet) mas é fundamental para entender e, em última instância, escolher um ou outro. O Xoom tem uma tela ligeiramente mais comprida, ideal para ver filmes; a tela do iPad é a perfeição em pessoa para ler revistas.

Quem acha que o Xoom é uma versão ampliada de um celular Android, como é o Samsung Tab, pode ir tirando o cavalinho da chuva. O Honeycomb, primeiro sistema Android desenvolvido exclusivamente para tablets, foi inteiramente redesenhado, e é praticamente um outro animal. Nem mesmo as três teclas regulamentares do sistema se encontram no tablet, mas sim na própria tela, no canto esquerdo.

Isso significa que o usuário de Android que compra o Xoom sai, num primeiro momento, da zona de conforto à qual está acostumado, e vai ter que aprender dois ou três truques novos. Para quem gosta de acompanhar a evolução dos tempos e dos produtos, é uma diversão a mais; para quem está contente com o que tem e não quer saber de curvas de aprendizado, pode ser uma decepção.

Sob este aspecto, o iPad é um grande acerto com o grande público: sua interface é praticamente a mesma do iPhone, e não há diferenças de software perceptíveis para o usuário, exceto o aumento de velocidade do sistema.

O Xoom sofre com os inevitáveis perrengues de trazer a versão 1.0 de um sistema operacional. Ainda tem detalhes a acertar e a operação não é 100% macia. Vale investir na experiência?

A meu ver, com certeza, sobretudo se você, como eu, tem ódio mortal do iTunes e do cerceamento à liberdade do usuário que ele significa. O Xoom, como qualquer bom Android, acaba sendo o que se quer que ele seja: os arquivos estão todos ao alcance do usuário e ninguém precisa hackeá-lo para poder usá-lo decentemente.

Duas coisas se destacam particularmente nesse ótimo tablet: a velocidade e o tempo de duração da bateria. Ele abre qualquer app ou website num piscar de olhos, e agüenta um dia inteiro de uso pesado, com diversos apps e janelas abertos. Não há nada igual para acessar a internet, inclusive porque, ao contrário do iPad, ele usa Flash, e o uso do Flash na rede é praticamente universal.

Há algumas coisas interessantes no Honeycomb. Gostei muito da administração das várias janelas, da integração nativa com os produtos Google, da possibilidade de desinstalação dos aplicativos via Market e, sobretudo, dos widgets altamente funcionais. Exemplo: o do Gmail mostra as primeiras mensagens da lista. Até aí, normal – é o que fazem todos os widgets de email. Mas o do Honeycomb permite que a gente role a lista de emails recebidos sem precisar abrir o programa. Não é o máximo?

Em relação aos aplicativos, sim, é verdade – o iPad tem infinitamente mais opções do que o Android. Mas a verdade é que das centenas de milhares de aplicativos disponíveis no mercado, a gente usa mesmo meia dúzia – e essa meia dúzia essencial – Gmail, Google, Dropbox, Mapas, Twitter, Facebook e alguma suíte de aplicativos no padrão MS, como Documents to Go – existe no Android. Na verdade, alguns são até melhores em Android, como o Kindle e, como escrevi antes, toda a família Google. Tenho centenas de aplicativos instalados tanto no Samsung Tab quanto no Xoom e, do outro lado, no iPad, e, de tudo que uso, a única coisa que realmente me faz falta no Xoom é o meu novo vício no iOS, o Instagram, uma comunidade de fotografia. Além disso sabe-se que é só questão de tempo para que, eventualmente, os apps sejam universais. Prometo para a semana que vem uma lista dos apps que acho fundamentais para a vida de qualquer tableteiro.

* * *

Notícia Parem as Máquinas: acaba de sair o novo nível de Angry Birds Rio!!! Não tive tempo de jogar ainda (chegou na madrugada de sexta) mas dá para adiantar que é na praia, e que as duas ararinhas aparecem logo de primeira.

Agora, com licença, que eu tenho assunto urgente e cheio de penas me esperando...  


(O Globo, Economia, 14.5.2011)

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