7.5.11

Cena carioca

Depoimento do meu amigo Eugenio Vilar:


"Terça passada, sete e meia da noite: cheiro de queimado, vou à janela, povo dos edifícios em frente gritando 'fogo, fogo'!

Era aqui. Vou pro corredor, são oito apartamentos por andar, mulheres em pânico. Estou no décimo, o fogo no segundo. Carreguei velhas gordas escada de caracol acima do nono pro décimo, tratei de garantir às pessoas que os bombeiros iriam chegar, levei duas cadeiras e um banquinho pra mulherada histérica e imune a qualquer razão. Disse palavras de conforto e paciência, mas só um garoto de uns 11 anos parecia me dar atenção e entender perfeitamente.

Os bombeiros chegaram, o fogo dominado, minha pobre mobília abandonada no corredor. Trouxe de volta as duas cadeiras, mas uma jovem me pediu para reter o banquinho, 'alguém ainda pode precisar'.

Depois de zero agradecimentos, o banquinho não foi devolvido até hoje, furtado por gente esperta.

Parodiando o finado jornalista americano, H L Mencken:

Ninguém jamais teve prejuízo moral ou material por subestimar a civilidade de seus vizinhos.

Adeus, banquinho!

evp.

ps. Gatos permaneceram impassíveis no colo de seus donos apavorados."

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