4.12.08


Voltando ao assunto

A crônica da semana passada -- sobre a Azul em Campinas, o Santos Dumont e o Galeão -- gerou uma quantidade de emails, quase todos de passageiros que, como eu, não entendem por que um aeroporto conveniente e recém-reformado fica às moscas, enquanto se dá prioridade ao outro, desconfortável, em obras e super-lotado. Alguns emails tentaram explicar a questão: dois de leitores pró-Galeão, um do secretário Júlio Lopes e outro do advogado Wilson Massa, atual superintendente do Galeão. Este último me tocou particularmente; mais adiante vocês verão por quê.

A essência da questão, se bem entendi, é fortalecer o Galeão como um hub nacional, atraindo para lá vôos internacionais e conexões com outros estados. Os quatro correspondentes pró-Galeão enfatizaram o número de passageiros do aeroporto para justificar o desvio de vôos do Santos Dumont: 6.024.930 em 2004; 8.657.139 em 2005; 8.856.527 em 2006; 10.352.616 em 2007. Ora, se formos nos guiar apenas por números, nem há o que discutir. Se o movimento de um aeroporto cai, é claro que o do outro aumenta.

Acontece que os dois aeroportos têm vocações muito diferentes. Ninguém, em sã consciência, defende o Santos Dumont como hub. Ele deve funcionar como aeroporto para pequenas viagens, feitas em pequenos aviões, como funciona com a Ponte Aérea; mas não li um argumento capaz de me convencer de que o mesmo esquema não poderia funcionar em relação a outros destinos, como propunha a Azul. Na verdade, o que ficou claro, a partir do que me escreveram, foi a incapacidade da Anac em controlar as empresas e o tráfego aéreo no país. Devo voltar a esse assunto, porque o espaço da crônica é pequeno, e há mais coisas entre o céu e a terra do que os aviões de carreira; mas agora passo a palavra para o Wilson Massa:

“Meu nome é José Wilson Bastos de Souza Massa, advogado, casado, pai de uma menina de sete anos, cristão, nascido e criado na cidade do Rio de Janeiro, atualmente com 39 anos. (...) Desde março deste ano, estou como Superintendente do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro / Galeão – Antonio Carlos Jobim. Mando esta mensagem em meu nome, como pessoa física: uma mensagem de um carioca para outra carioca. E, como carioca, estou vivendo a oportunidade de trabalhar para fazer com que o Rio de Janeiro fique melhor ainda, ao cuidar de sua principal porta de entrada e saída. (...)

Já não somos obrigados a ir a São Paulo para qualquer viagem internacional. Com exceção da United Airlines, todas as demais empresas aéreas nacionais e estrangeiras possuem vôos diretos do Rio de Janeiro com destinos como EUA, América Central, América do Sul , Europa e África. Esta retomada de voltarmos a ser um aeroporto internacional não somente de direito, mas de fato, deu-se principalmente por voltarmos a concentrar vôos domésticos no Galeão, a partir de agosto de 2004. Com isto, ele retomou uma característica fundamental para um aeroporto internacional de grande porte: conectividade. Ou seja, oferecer conexões para outros diversos destinos, e com isso alimentar vôos internacionais com passageiros de outras origens domésticas.

Respeito integralmente a sua percepção sobre a campanha publicitária que desenvolvemos para esclarecer aos nossos clientes quais os objetivos das obras em andamento, e o quanto está sendo investido no principal Aeroporto do Estado e da Cidade do Rio de Janeiro. Não conseguimos agradar a todos. Mas o detalhe dos centavos foi uma opção de mostrar o exato valor contratado. Ou seja, não se trata de uma previsão orçamentária, e sim, de obras contratadas, com seus valores expostos para que todos percebam a razoabilidade dos preços pagos para darmos a devida segurança e conforto aos nossos clientes.

Sobre “sacanagem, má-fé, safadeza, ou todas as respostas acima” – sou oriundo de uma família de classe média baixa; estudei em escola pública até a 2ª série e da 3ª a 7ª série tive o privilégio de ser bolsista integral em colégio particular (Colégio Santa Mônica – Cachambi); cursei o 2º grau na Escola Preparatória de Cadetes do Ar, em Barbacena – Minas Gerais; fiz o curso de Direito na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ou seja, sou fruto do ensino público de qualidade deste país. Na Infraero, fui selecionado por meio de concurso público realizado em 1995, e admitido em 1997. Fui primeiro colocado no concurso em questão. Galguei, ao longo de quase dez anos, todas as promoções que consegui por mérito profissional. Não sou filiado a qualquer partido político, embora nada tenha contra quem o seja.

Escrevo isso para que a senhora entenda porque posso afirmar o seguinte: desde que assumi a administração do nosso Aeroporto (nosso, porque pertence à coletividade), não há qualquer sacanagem, má-fé, safadeza ou todas as respostas acima, em qualquer contratação ou aquisição referente ao Galeão. Em qualquer lugar em que esteja como gestor, este é meu procedimento: não admito qualquer irregularidade, e não sou conivente com qualquer atitude de improbidade. Esta atitude tem um preço, que é o de não ser simpático; de ser visto como “caxias”; de ser visto até mesmo como “otário”: mas prefiro pagar este preço, e ter a consciência tranqüila para escrever essas afirmações para a senhora. Claro que não consigo garantir a probidade nos processos administrativos sozinho: devo isso também aos colegas que trabalham comigo, e que comungam da mesma opinião e atitude.

Quero colocar-me a seu inteiro dispor para todo e qualquer esclarecimento, e espero que, dentro em breve, a sua opinião sobre nosso Aeroporto seja outra. É um compromisso que assumo com a senhora, como carioca. É para isso que trabalhamos aqui no Galeão.”

Não gosto da Infraero, mas gostei muito do Wilson. Posso estar enganada, mas li, neste email, as palavras de um homem de bem.


(O Globo, Segundo Caderno, 4.12.2008)

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