1.12.08

O brinquedo mais divertido

Não pensei que fosse acontecer tão cedo, se é que aconteceria algum dia, mas acabo de recomendar um iPhone a uma amiga. A questão é que ela não estava precisando de celular, e sim de computador. Tem uma filha que mora no exterior e que vem para o Natal, e me pediu uma sugestão de notebook para resolver a eterna disputa familiar em torno do único PC da casa.

O uso que faz de computador é muito específico; para ela, que não usa a máquina para trabalho, o que importa é uma conexão com a internet, para que possa navegar pelos seus blogs favoritos e conferir as fotos que os amigos postam no Flickr. Quando a filha voltar para a Europa, o notebook poderia eventualmente ser útil em caso de viagem, mas no resto do tempo ficaria encostado. Então, por que não um iPhone, que pode ser carregado na bolsa e que, com um plano de dados ilimitado, funciona como uma conexão sempre à mão?

Falo de cadeira, porque eu mesma já não saio de casa sem ele. É uma maquininha extremamente divertida, sobretudo se bem recheada de aplicativos. No momento, o meu iPhone ostenta um total de 115 ícones (!), espalhados por seis telas, e meia dúzia de categorias, ou seja, pastas específicas para certos tipos de aplicativos (imagem, mídia, jogos, livros, viagem e utilitários).

É coisa à beça, especialmente se pensarmos no que alguns desses ícones representam: há um para toda a obra de Shakespeare, outro para toda a obra de Jane Austen, um terceiro para uma biblioteca básica de clássicos, sem falar nos dicionários Duden, Oxford e Roget’s Thesaurus. Há um guia Frommer’s de Paris, para que eu tenha a ilusão de que estou sempre às vésperas de viajar; uma grande diversidade de programas de controle de orçamento, para que eu tenha a ilusão de que um dia vou dar jeito nas minhas contas; e uns dois ou três programas de controle de atividades físicas, para que eu tenha a ilusão de que vou entrar em forma.

O que eu uso de fato disso tudo, pelo menos no momento, é a calculadora, o browser, o Bradesco online, as dezenas de feeds de jornais e revistas do mundo inteiro que leio compulsivamente e o Scrabble, jogo de palavras cruzadas em inglês, além de um pequeno programa de estudo de alemão.

A vida com essa quantidade de aplicativos tem seus inconvenientes. O iPhone não é multitasking, isto é, não roda diversas coisas ao mesmo tempo. Fecha-se uma aplicação, abre-se outra. Ora, ao ser fechada, uma aplicação bem comportada deveria retirar-se completamente da memória que alocou na máquina; mas, infelizmente, contam-se nos dedos de uma mão as que de fato portam-se assim. Essa retirada digna de cena chama-se, apropriadamente, de garbage collecting, e este tem sido, desde sempre, um dos grandes desafios da computação.

Resultado: depois de rodar três ou quatro programas em seqüência, o iPhone começa a ratear e a se recusar a trabalhar direito. A solução? A mesma que se usa com computadores rebeldes: novo boot. Como não sou masoquista, pretendo, em breve, reduzir o conteúdo do iPhone. O problema é que o número de aplicativos cresce mais rápido do que consigo testá-los, para ver o que fica e o que sai.

Estou me queixando? De jeito nenhum! Para quem gosta de quebra-cabeça, é isso, exatamente, que torna o mundo da tecnologia tão divertido...


(O Globo, Revista Digital, 1.12.2008)

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