Exclusão digital já!
Taí: nunca pensei que a questão dos fingers no Santos Dumont fosse tão polêmica. Perdi a conta dos emails de adesão à campanha pela exclusão digital do Santos Dumont: todos os leitores que me escreveram queriam saber onde assinar, para quem mandar emails, de qual autoridade cobrar este crime de lesa-aeroporto.Infelizmente, não tenho resposta para essa pergunta: ainda há autoridades no Rio de Janeiro?!
A boa notícia é que o deputado Fernando Gabeira também aderiu ao movimento, e já fez um requerimento de audiência pública para debater este famigerado projeto de ampliação.
Maria Beatriz Setubal de Rezende Silva, arquiteta do Iphan, resumiu bem o sentimento de todos: "Acho difícil haver aeroporto mais bonito, não apenas pela arquitetura, cuja simplicidade e transparência orientam rapidamente o viajante mais inexperiente, mas pelo conjunto de aspectos que fazem desse aeroporto um exemplar único. (....) A paisagem que se pode desfrutar da pista é deslumbrante e a sensação de deixar a terra para ganhar os ares não poderia ser mais contundente. Caminhar pela pista, com os aviões tão próximos, passar por debaixo da asa para subir a escada posterior da aeronave, coberta ou descoberta em função do clima, faz qualquer um resgatar o fascínio dos transportes (....) e perceber o quanto eles revolucionaram nosso modo de estar no mundo. Não há tubos, não há esteiras, o aeroporto não tem jeito de shopping, ao contrário nos lembra o tempo todo que se trata de uma base para os homens levantarem vôo. Se estamos ali é para voar. Não vamos deixar morrer o Santos Dumont!"
A única voz dissonante em relação aos fingers foi a da Jerusa Araújo -- mas a observação que ela fez foi de extrema importância: "Tudo bem que você ache lindo descer a escadinha do avião vendo o Pão de Açúcar. Concordo que é um belo cenário. Mas dá para imaginar que a ausência de fingers é um transtorno para o deficiente físico? Adoro viajar, mas sem finger, não dá. Evito a Ponte Aérea, porque só de pensar que tenho que ser carregada escada acima e abaixo, tenho calafrios. Os fingers deveriam ser obrigatórios em todos os aeroportos do mundo!"
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Enquanto isso, o spotter Gustavo Kaufmann comentou como anda difícil exercer o seu hobby ultimamente: "Somos aqueles doidos que vão ao aeroporto não para receber parentes ou viajar, mas simplesmente para ver os aviões."Armados" de câmeras fotográficas, rádios para saber quem é quem nos céus, binóculos para captar os mínimos detalhes, somos constantemente "assediados" pela Infraero das mais diversas formas. Nossos terraços panorâmicos foram extintos, as grades nos aeroportos são cada vez mais altas e opacas e a segurança aeroportuária feita por empresas terceirizadas (que são muito mais cômicas do que efetivas, pois parecem nem saber o que fazem lá) constantemente nos aborda nos aeroportos: "Não pode tirar foto não"... claro que pode, mas a Infraero parece se sentir "invadida" por nosso interesse em saber o que se passa em um aeroporto.
Caso fôssemos terroristas ou "muleques" fazendo algazarra nos aeroportos a segurança se justificaria, mas não, somos pilotos, comissários, engenheiros, advogados, médicos, todos infectados pelas infalíveis bactérias do "aerococus", que nos unem com os olhos voltados para os céus; "Qual a matrícula nova da Varig?", "Já chegou o novo 737 da Gol?", "Viram só a nova pintura da Tam?". As fotos para marcar cada momento, são postadas em sites especializados -- onde nós, brasileiros, fazemos muito sucesso, modéstia à parte."
Outro spotter, o Carlos Henrique. complementou: "O nosso trabalho pode ser visto em
Por acaso, conheço o aeroporto de Saint Martin, onde já estive algumas vezes -- e onde, claro, fiz muitas fotos de aviões. É irresistível: imaginem uma pista tão curta que começa literalmente na praia; e agora imaginem o pouso de Boeings 747, os velhos Jumbos, criando verdadeiros tornados em que se misturam, em partes mais ou menos iguais, um barulho ensurdecedor, areia, vento, o calor escaldante das turbinas e um cheiro horrível de querosene. A experiência não é agradável, mas é muito divertida. A tal ponto que, numa ilha paradisíaca, cheia de praias quase desertas, a do aeroporto vive lotada.
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Quando vocês lerem esta crônica, eu estarei em Berlim, onde se realiza uma das maiores feiras de eletro-eletrônicos do mundo. Já terei voado um bocado, mas outros vôos estarão à minha espera: assim que a feira terminar, tiro uma semana de férias. Mando notícias de lá. E prometo que só volto ao assunto dos fingers no Santos Dumont depois de me encontrar com o arquiteto Sérgio Jardim, que gentilmente se ofereceu para me explicar o projeto que fez para a expansão do aeroporto.(O Globo, Segundo Caderno, 1.9.2005)
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