3.9.05



Enquanto isso, na mailbox do ministro...


Exmo Sr. Dr. Márcio Thomaz Bastos,
Ministro da Justiça,

Ontem, após ler as 150 mensagens que recebo por dia em meu computador, escrevi a V. Exa. mais um de meus textos de protesto, lembrando que o cínico ex-marqueteiro da SECOM da Presidência da República que havia declarado à CPI do "Mensalão", como aliás a maioria dos envolvidos, que não se lembrava de nada, que não sabia quem havia aberto a conta na offshore Dusseldorf, que isso quem sabia eram seus advogados, que não movimentava a conta porque não era bahamense nem norte-americano, pois bem, esse mesmo cara-de-pau estava, sim, fazendo "movimentações atípicas" na offshore, segundo informações da Unidade de Inteligência das Bahamas.

Antes que eu conseguisse enviar cópia da mensagem a jornalistas selecionados, que já entenderam não estar eu falando apenas da proteção de "bichinhos", mas de algo muito mais sério, a membros do MP, a companheiros de luta ambientalista, a membros dos tribunais superiores, a membros do Congresso Nacional, pois bem, antes que meu provedor desse conta de distribuir as mensagens, vejo que não só até o momento o marqueteiro da Petrobrás e do Ministério da Saúde, duas contas obesas, conseguiu escapar das garras da justiça, como me chega a notícia de que o Dr. Antonio Carlos Rayol e o agente Federal Fábio, que goza de imunidade sindical, foram indiciados pela cúpola da Polícia Federal. Os policiais foram acusados de "concorrer para escândalo público" e "arranhar publicamente a reputação da PF".

Senhor Ministro, com este indiciamento, que considero de todos os protetores de animais e dos brasileiros que execram a impunidade e as carteiradas, vejo-me obrigada a abandonar minhas costumeiras brincadeiras e subir o tom de minhas críticas. V. Exa. e o Dr. Paulo Lacerda me levaram a isto.

Estou aterrorizada ao presenciar a certeza de poder ilimitado com que conta o Governo "deste país", como diz o Presidente Lula, nas patéticas e alienadas falas a que tem se dedicado ultimamente, nas inaugurações de supermercados, açudes e barracas de quermesses, desde que seu governo foi invadido pela lama, como uma espécie de New Orleans ideológica, após a passagem do Katrina do vale-tudo-pelo-ou-no-poder. Como já disse a V. Exa., uma das poucas e sábias decisões do Presidente Lula foi ter escolhido um advogado criminalista para Ministro da Justiça.

Provavelmente V. Exa. e seu ex-escritório nunca tiveram de dar tantas orientações! São as ironias do destino! Garanto que seus ex-sócios nunca viram uma coleção tão grande a variada de delitos cometidos por um único grupo de pessoas, de crimes contra o sistema financeiro, evasão de divisas, agressões as mais diversas ao Direito Administrativo, fora as incursões nos crimes contra a pessoa em ao menos duas cidades, como Santo André e Campinas.

Certamente os ex-sócios de V. Exa. devem estar estressados! Não estarão até constrangidos? Até sobre a cena dantesca descrita no O Estado de São Paulo de 29/8/2005, referente à postura desse ícone contra a tortura, Deputado Luís Eduardo Greenhalgh, tendo pitis na sala de necropsia, tentando impedir o correto exame do corpo do desditoso prefeito Celso Daniel, que havia sido torturado! Terá o Deputado Greenhalgh surtado? Já sei: o advogado nunca tinha visto um morto com expressão tão sofrida, tão retorcido de dor, daí o chilique... Mas nesse caso, se a ele sempre indignou a tortura, como aliás a todos nós, comuns mortais, não teria sido mais sábio se, ao invés de ter faniquitos, o advogado não tivesse denunciado a prática aos quatro ventos? Ao menos assim não teria torturado sua biografia!

Exa., acho que nunca em minha vida escolhi tão bem um nome para um texto. "Operação Holocausto" soa-me agora como uma profecia, de que o PT partiu como um panzer de Hitler por cima de todas as normas, códigos, a começar pelo de ética, sem falar da Constituição Federal, à conquista não do governo mas do poder duradouro a qualquer custo. Para esse fim todos os meios foram e são aceitáveis. A perseguição ao Dr. Antonio Carlos Rayol e sua equipe são um dos aspectos dessa truculência hitlerista, que bem poderia ter sido praticada por Josef Stalin, pois os extremos da tara pelo poder sempre se encontram. Aceitará seu partido uma derrota nas próximas eleições? A truculência demonstrada nesses desdobramentos da prisão do marqueteiro agressor do Código Penal permitem que eu aceite apostas: sairá o partido de V. Exa. do poder "numa boa" ou não? Eu sou pela segunda hipótese.

Pois que então Dr. Rayol e sua equipe foram indiciados por "concorrer para escândalo público"! Exa., eu lhe digo quem concorreu para escândalo internacional, expondo o povo brasileiro, tirando-lhe a paz, afligindo-o com as conseqüências políticas, ideológicas e econômicas que ainda poderão ainda advir: o PT, este partido que se revelou um santinho do pau oco. Se os membros deste governo fossem policiais federais, aí sim, concordo que deveriam estar a ferros, jogados numa masmorra.

É o que merece um partido que matou com requintes de crueldade as esperanças de termos um Brasil próspero e decente, um partido que cuspiu na cara dos habitantes "deste país", um governo que ainda continua certo de que vai conseguir tudo abafar, rindo da nossa cara. Até a Medalha Rio Branco parece ter virado moeda de barganha para dois presidentes: o da República e o da Câmara dos Deputados.

A falta de aplausos na cerimônia de outorga, ontem, foi sintomática de que a sociedade não permitirá que se transforme o Governo Federal em algum curral da terra do xique-xique. O povo "deste país" foi tão torturado quanto Celso Daniel.

Até quando V. Exa. acha que basta fazer uma negação de uma acusação e tudo está resolvido? Não não recebi propina. Pronto. Não, não paguei propina. Pronto. Não, não tenho caixa 2. Pronto. Conta nas Bahamas? Não, não me lembro. Pronto. V. Exa. bem sabe que se fosse simples assim, os advogados seriam dispensáveis, principalmente os criminalistas.

O Delegado Rayol e sua equipe foram também indiciados por arranhar "publicamente a reputação da PF". Pois eu digo a V. Exa. quem arranhou a reputação da PF: foram a Dr. Paulo Lacerda e outros chefetes, que, por ordens superiores, decidiram punir quem, cumprindo seu dever, não hesitou em pisar nos calos dos poderosos. Isto, sim, é um escândalo público! Mas Dr. Lacerda et allii tenham uma certeza: ele e outros passam.

A Polícia Federal é bem maior que isto. A instituição não é representada por cartolas, mas sim por seus agentes, aqueles que agem para manter a ordem arriscando a própria vida, contando com a admiração do povo brasileiro. Esses homens passarão por cima das mesquinharias dos feitores burocratas como uma jamanta, impondo o nome da PF como grande instituição. Aqueles que se prestarem a pequenezas serão esmagados como CDs piratas e varridos para a cova do esquecimento.

Ana Maria Pinheiro
Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal

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