4.9.05





Bia em Berlim

Eu ia fazer uma surpresa, mas como neste blog tudo se sabe, informo apenas que a Bia chegou sã e salva, ainda que exausta da viagem (e logo censurou a fotinha de telefone que mandei que mostrava isso...).

No avião havia um bebê a bordo que chorou a noite inteira e, naturalmente, ela não conseguiu pregar o olho.

Eu só estava esperando ela chegar para decidir que rumo tomar na vida:

  • Ficar mais um ou dois dias em Berlim?

  • Ficar neste hotel mesmo, torrando euros à velocidade da luz, ou cair na real (e no real) e buscar acomodações mais baratinhas?

  • Alugar um carro, pegar um trem, ir pro aeroporto?

    A Bia, que é um bípede com mais fio-terra que a mãe, cortou imediatamente meu delírio hoteleiro, lembrando da quantidade de contas que temos em casa para pagar. Fomos, pois, caçar um hotel mais em conta; e encontramos um simpático estabelecimento chamado Relexa, para o qual nos mudamos amanhã, deixando para trás os mármores, as plumas e o pessoal fora de série do Ritz-Carlton -- onde até o porteiro já sabe o meu nome.

    I could live with that.

    Em outras palavras, eu não teria a menor dificuldade em me adaptar à dura vida de rico.

    Na volta para cá, paramos para jantar e nos perdemos lá pelos lados da antiga Berlim Oriental, numa parte bem detonada e escura da cidade -- mas, em sendo cariocas, nada nos mete medo, nem mesmo uma cidade desconhecida à meia noite.

    * * *

    Berlim é um gigantesco canteiro de obras. Aqui há mais terrenos baldios e prédios em reconstrução do que em qualquer outra grande cidade que eu conheça.

    Mas essa atividade toda é, no fundo, um monumento à estupidez humana. Mais do que ruas e edifícios, o que se tenta fazer com tanto trabalho é fechar as feridas abertas por uma guerra devastadora e por tudo o que se seguiu a ela.

    Praticamente não há nada que se veja que não tenha sido destruído, ou pelos bombardeios, ou pela falta de sensibilidade dos burocratas do regime comunista.

    Seguir a linha do muro que durante quase 30 anos dividiu a cidade foi, para mim, uma experiência muito perturbadora. Por mais que eu tenha lido sobre o assunto, por melhor que conheça a História, estar aqui deu, à tragédia, uma dimensão humana inigualável.

    * * *

    Tragédias à parte, Berlim tem recantos adoráveis e parques deslumbrantes. Aproveitando o tempo espetacular que tem feito, a programação de hoje é alugar duas bicicletas e sair por aí.

    Mas, desta vez, de mapa na mão...

    P.S. -- Bia me trouxe a foto acima de presente. O pessoal da Livraria da Travessa recortou a crônica em que eu falava dos livros húngaros e fez um cantinho especial só para eles. Não é a coisa mais delicada?!
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